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setembro 3, 2012
Mostra no MAM revisita a carreira de Adriana Varejão por Gustavo Fioratti, Folha de S. Paulo
Mostra no MAM revisita a carreira de Adriana Varejão
Matéria de Gustavo Fioratti originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 1 de setembro de 2012.
Adriana Varejão - Histórias às margens no MAM-SP - 04/09/2012 a 16/12/2012
Conjunto de obras da artista plástica abre ao público nesta terça e reúne obras inéditas no Brasil em exposição paralela à Bienal de SP
Poucos artistas jovens conquistaram o espaço que o MAM vai conceder a partir desta terça-feira à artista carioca Adriana Varejão, com uma mostra panorâmica de sua carreira.
A exposição "Histórias às Margens" abre também em um mês nobre no calendário do museu, às vésperas do início da Bienal de São Paulo.
O quadro mais antigo presente na mostra, "Milagre dos Peixes", de 1991, já se debruça sobre uma das principais investigações da artista: imitar outro suporte. A obra reproduz a óleo o que seriam peixes pintados sobre cacos de porcelana.
Em pé, diante de uma paisagem da mesma série pintada à moda chinesa dos séculos 11 e 12, a artista explica: "Aqui eu imito nanquim sobre papel, mas refaço em óleo sobre tela; mudo a técnica mas preservo a maneira de pintar, como se eu estivesse fazendo uma pintura chinesa de outro século".
O quadro pertence à série "Terra Incógnita", em que a artista cria um contato cultural entre Brasil e China. A pintura funde, em uma mesma paisagem, iconografia dos dois universos.
"É um território híbrido, um território que não existe", lembra Adriano Pedrosa, curador da mostra.
Em detalhes, há desenhos que vasculham a influência chinesa no barroco brasileiro intermediada pela colonização portuguesa -que tinha terras na África e na Ásia.
Com 47 anos, Varejão consolidou uma obra de destaque entre artistas brasileiros de sua geração, dedicada ainda a uma outra questão: a interface entre pintura e representação tridimensional.
Em quadros que imitam azulejarias, por exemplo, pulsam cortes e incisões de onde saltam carnes esculpidas em espuma de poliuretano, tudo devidamente pintado em vermelho-sangue.
Essa é a descrição de um trabalho que, como muitas das 41 peças da mostra, ainda não esteve no Brasil. "Azulejaria Verde em Carne Viva" (2000) impressiona pelo contraste entre a geometria quadriculada e as vísceras que saem de dentro dela. Pertence à Tate Modern, de Londres.
Atualmente, há obras de Varejão também nos acervos do Guggenheim, de Nova York, na Fundação Cartier, de Paris, no Stedelijk, de Amsterdã, e em coleções particulares almejadas dentro do circuito das artes.
Uma de suas telas foi arrematada por R$ 2,97 milhões em um leilão promovido pela Christie's, de Londres, um recorde entre os artistas contemporâneos brasileiros.
A obra não está presente, mas a mostra do MAM traz um trabalho da mesma série: "Parede com Incisões à la Fontana", homônima à pintura leiloada em 2011.