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agosto 31, 2012
Adriana Varejão revisita sua carreira em mostra panorâmica no MAM por Camila Molina
Adriana Varejão revisita sua carreira em mostra panorâmica no MAM
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno de cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 31 de agosto de 2012.
Adriana Varejão - Histórias às margens no MAM-SP - 04/09/2012 a 16/12/2012
'Histórias às Margens', a primeira antologia da produção da artista, será inaugurada no MAM
"A carne não representa para mim nada de martírio, morte. Existe um certo humor em meu trabalho que ninguém vê, um humor negro que às vezes é um pouco grotesco. Não é para levar tão a sério", diz a artista carioca Adriana Varejão. De uma forma explícita, em sua série Ruínas de Charque, dos anos 2000, a pintora se vale da artificialidade de colocar vísceras dentro de fragmentos de paredes de azulejo. Mas a carne não é carne, o azulejo não é azulejo: de uma maneira mais ampla, barroca, quando as entranhas da pintura e das histórias - da arte, antropológicas ou outras - aparecem representadas na obra de Adriana Varejão, há ficções e contundência. Encenações e paródia. E até um monte de "miscigenações".
Somente agora, depois de uma prestigiada carreira iniciada na década de 1980, Adriana Varejão tem, no Brasil, a primeira antologia de sua produção, a mostra Histórias às Margens, que será inaugurada segunda-feira no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo. A exposição apresenta 42 trabalhos realizados por ela desde 1991, entre eles, Extirpação do Mal por Incisura (1994) e Reflexo de Sonhos no Sonho de Outro Espelho (Estudo sobre o Tiradentes de Pedro Américo, 1998), exibidos, respectivamente, nas 22.ª e 24.ª Bienais de São Paulo. Anteontem, na montagem da mostra, a própria artista se surpreendia ao rever peças que há mais de 20 anos não são vistas no País.
"Minha produção dos anos 1990 é pouco conhecida. A única condição para fazer a exposição foi trazer trabalhos que estão no exterior", diz a pintora, já referencial não apenas por ter sua pintura Parede com Incisões à La Fontana II (2001) - que representa rasgos na tela de onde saem carne, vale dizer - vendida pela casa de leilões Christie's por US$ 1,7 milhão, o que se tornou um recorde do mercado de arte contemporânea brasileira. Dito e feito, a exposição trouxe peças que integram coleções de prestígio como as da Tate Modern, da Inglaterra, e do Guggenheim de Nova York.
Mais do que abrir a possibilidade do olhar retrospectivo pela produção barroca de Adriana, a mostra apresenta três obras que acabam de ficar prontas e vieram diretamente de seu ateliê no Rio. Adentremos, pois, na "cartografia varejão", como já definiu a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz - feita "entre verdades e simulações", entre "vermelho do sangue e azul do céu".