|
agosto 17, 2012
Arte digital invade Instituto Tomie Ohtake até setembro, Panorama Brasil
Arte digital invade Instituto Tomie Ohtake até setembro
Matéria originalmente publicada no Panorama Brasil em 14 de agosto de 2012.
A 3ª Mostra 3M de Arte Digital apresenta um projeto especial, Praia de Paulista, e 15 obras concebidas por artistas de diferentes gerações e vários Estados
Pela primeira vez, o evento realizado pela 3M do Brasil acontece no Instituto Tomie Ohtake. Nesta terceira edição, a mostra, com curadoria de Giselle Beiguelman, tem como eixo conceitual as Tecnofagias e destaca as relações entre a ciência de ponta e a ciência de garagem, ou a combinação entre o low e high tec, que marcam a produção nacional.
A 3ª Mostra 3M de Arte Digital apresenta um projeto especial, Praia de Paulista, e 15 obras – a maioria inédita em São Paulo, algumas especialmente desenvolvidas para o evento e outras com versões atualizadas –, concebidas por artistas (individuais, duos e coletivos) de diferentes gerações e vários Estados. “O grupo, composto apenas por brasileiros, é, em síntese, um conjunto de criadores que celebram as possibilidades em aberto do século 21, ocupando o espaço expositivo por meio de obras, oficinas e ações que devoram as tecnologias para devolvê-las ao coletivo como projetos de uma nova estética e um outro modo de vida”, afirma Beiguelman.
Uma obra emblemática do pensamento curatorial da 3ª Mostra 3M de Arte de Digital é o trabalho desenvolvido pelo coletivo Gambiologia. Por meio de oficinas com um grupo de jovens que atuam no CCJ - Centro Cultural da Juventude, na periferia de São Paulo, foi concebida em co-autoria a Random Gambièrre Machine, um híbrido de instalação e máquina que “executa uma tarefa simples de uma maneira extremamente complexa, geralmente utilizando uma reação em cadeia”. A obra é um painel interativo construído exclusivamente com objetos resgatados de ferros velhos e coleções, equipados com eletrônicos e gambiarras.
Já o Grupo Poéticas Digitais estabelece um jogo entre a natureza e o urbano em Amoreiras, 2010. Expostas do lado externo e voltadas para a rua, cinco pequenas árvores plantadas em grandes vasos captam os diversos fatores da poluição, por meio de um sistema que mede as variações e discrepâncias de ruídos, e reage aos diversos poluentes e poluidores, balançando os ramos das amoreiras.
Outro trabalho que parte do familiar, do doméstico, para buscar o inesperado, o excepcional, conforme aponta a curadora, é o de Lea Van Steen. Na versão atualizada de Jukebox, 2011, o público escolhe um vídeo, em estética que lembra o cardápio trivial transmitido pelo Vimeo e YouTube, a partir de uma Jukebox. As imagens são projetadas em um globo estroboscópico, de casas noturnas antigas, que fragmenta a seqüência escolhida, multiplicando pelo espaço as cenas - pequenos acidentes cotidianos, surpresas latentes nos mínimos detalhes.
Também nessa direção está o trabalho de Martha Gabriel que a partir dos trending topics do Twitter, criou a sua Crystal Ball, 2009-12. Na Crystal Ball, as 10 trending topics do momento são traduzidas em imagens via Google Images, ou seja, a própria rede se interpreta e resulta nas imagens que aparecem na bola de cristal.
Em muitas obras o corpo do visitante protagoniza a experiência artística, como a escultura móvel eletrônica inédita de Rafael Marchetti, in_existences-out, 2012 (instalação mecatrônica). Uma estrutura feita de 6 canos de conduítes contendo, no interior, cabos de aço ligados a motores independentes de rotação constroem um robô interativo que se movimenta conforme a variação ambiental, em relação ao público, ao ar e à temperatura. O trabalho da dupla Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti Espelho, 2008, também reage à presença do espectador. Fixo à parede, esse espelho, dispositivo ótico com um campo sensório está programado para medir e reagir, a todo o tempo, a distância que o sujeito está dele. É como se ao invés de olharmos para o espelho, ele nos perseguisse, procurando diluir nossa imagem.
Outra obra que tem o corpo como parte ativa do processo é a instalação sonora X.Y.Z., 2011, de Raquel Kogan, nunca apresentada em São Paulo, que transforma altura, peso e frequência cardíaca do visitante em sonoridades. A pulsação da música é determinada pela frequência cardíaca, a tonalidade de cada fragmento é determinada pela altura, e o timbre pelo peso. É também pelo som que Jarbas Jacome concebeu a instalação Crepúsculo dos Ídolos, 2012. Em um ambiente com cinco televisores ligados em um canal de TV aberta, uma câmera e um microfone, a imagem das TVs distorce de acordo com a intensidade e o tempo de duração do som produzido pelo visitante. As distorções evoluem seguindo algumas cores do crepúsculo: amarelo, laranja, vermelho, azul, até que a imagem do sujeito que interage apareça projetada na cena que estiver no ar, naquele momento.
Ressalta a curadora a figura de Glauber Rocha como pioneira na forma singular de pensar as possibilidades estéticas a partir dos embates entre a tecnologia e os contextos precários. Nesta exposição, a Cia de Foto reverencia o mestre do Cinema Novo, apresentando um ensaio fotográfico e textual inédito, a partir do filme Terra em Transe, 1967. País Interior, 2012, é um ensaio multimídia que reúne imagens feitas a partir dos próprios fotogramas da película, entremeados por textos que cruzam extratos do roteiro a ensaios sobre fotografia e estética, além de áudios distorcidos e retrabalhados do filme. A partir desse conjunto, outra história se revela.
A experiência seminal da fotografia e do vídeo é resgatada e renovada na obra de Dirceu Maués em Extremo Horizonte, 2012, uma panorâmica feita com pinhole criada especialmente para a mostra. O artista cria câmeras artesanais para produzir suas imagens que depois são digitalizadas e editadas em vídeo. Para a Mostra 3M, apresenta, além das panorâmicas, o conjunto de suas câmeras artesanais, uma série de vídeos feitos com caixas de fósforo, inédita em São Paulo. Com duas imagens em grandes dimensões produzidas em 2012 – Ceasa e Aeroporto –, a fotografia de Cássio Vasconcellos também integra a mostra. Os dois trabalhos, resultado de sucessivas capturas aéreas e inúmeras operações de manipulação digital, revelam paisagens incrivelmente reais, tal sua paradoxal precisão e impossibilidade.
Já em Pele Mecânica, versão 2012, Arthur Omar lança mão de cinco projetores controlados por cinco computadores e programação de WatchOut para realizar a sua instalação multimídia em formato circular. A partir da série fotográfica já clássica do artista, Antropologia da Face Gloriosa, em preto e branco, são criadas mais de 3000 variações cromáticas. A coleção se torna processo e matéria para novas séries de figurações, abstrações e devires que atravessam diferentes fases e estilos da história da arte.
Experiência sensível que se utiliza de alta tecnologia consiste também a obra de Jane de Almeida. Em sua instalação audiovisual EstéreosEnsaios, 2012, a artista explora imagens em ultra-definição (4K) e retrata o Rio de Janeiro em cinema 3D. Na projeção estereoscópica do filme, a resolução chega a 20 milhões de pixels por frame na tela, somadas às imagens correspondentes aos olhos esquerdo e direito.
Por sua vez, o videoartista Lucas Bambozzi em Das Coisas Quebradas, 2012 (máquina de consolidação de obsolescência a partir de campos eletromagnéticos), constrói, especialmente para a mostra, uma instalação que devora antigos aparelhos celulares e funciona a partir da leitura do campo eletromagnético no espaço. O sistema se acelera ou diminui conforme o uso de celular do público no ambiente. Além de despertar sentimentos ambíguos e contraditórios em relação ao uso de certas tecnologias, o trabalho faz refletir sobre o lixo eletrônico e os impasses da obsolescência programada. Já Gisella Motta e Leonardo Lima apresentam I.E.D. (Improvised Explosive Device, 2008) uma bomba caseira feita de lixo doméstico que opera uma crítica sutil e forte à banalidade da militarização do cotidiano.
Completa a exposição o projeto especial Praia de Paulista, que acontecerá dias 17 e 31 de agosto, às 18h, na parte externa do Instituto Tomie Ohtake. Aproveitando as ondas do edifício, e em cadeiras de praia, o público poderá assistir a remixes de Terra em Transe e outros filmes de Glauber Rocha, feito pela Cia de Foto, a crítica de cinema Ivana Bentes e convidados. Conversas, pipoca e cervejinha no final.
“A proposta desta 3ª Mostra 3M de Arte Digital reúne ideias surpreendentes, com grande conexão com o universo de inovação que permeia a cultura da 3M. Acreditamos que o público vai gostar muito, pois terá a oportunidade de apreciar obras que estimulam a criatividade e combinam inesperadamente a alta tecnologia com elementos do cotidiano apostando sempre na interatividade da arte com o público e o ambiente. Reforçamos, por meio deste patrocínio cultural, nosso apoio à criatividade e inovação e para a disseminação da cultura, conhecimento e lazer, fatores importantes para o desenvolvimento social e cultural da população”, comenta Luiz Eduardo Serafim, gerente de Marketing Corporativo da 3M do Brasil.
Serviço:
3ª Mostra 3M de Arte Digital; Instituto Tomie Ohtake; Avenida Faria Lima, 201, Pinheiros, São Paulo; De 15 de agosto a 16 de setembro; das 11h às 20h; Informações: (11) 2245-1900.