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agosto 7, 2012
Nome forte da arte inglesa chega ao país por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Nome forte da arte inglesa chega ao país
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 7 de agosto de 2012.
Isaac Julien abre mostra com quatro instalações no Sesc Pompeia, em SP, como parte de evento paralelo à Bienal
"Geopoéticas" também vai abrigar 11 filmes realizados entre 1984 e 2008, com estética underground e "queer"
Em 1995, o então cineasta britânico Isaac Julien, entrou na galeria Gagosian, de Nova York, que apresentava uma instalação em vídeo de Douglas Gordon, sem saber que aquilo mudaria os rumos de sua carreira.
"Eu tive um 'clique' e decidi que queria exibir em museus e fazer trabalhos fotográficos, pois o cinema estava muito restrito", diz Julien.
Em abril, ele visitou o Sesc Pompeia, em São Paulo, para conhecer o espaço que vai acolher "Geopoéticas", quatro instalações de sua produção na última década.
A mostra é organizada pelo Videobrasil, em parceria com o Sesc, como exposição paralela à 30ª Bienal de São Paulo, dando sequência à exposição de Joseph Beuys, realizada há dois anos.
Enquanto a mostra de Beuys abordava a criação artística de forma essencialmente política, com Julien, tal questão ganha outra dimensão.
"Ele possui uma forma única de construir uma narrativa no espaço a partir do acúmulo de sons e de imagens, primorosamente captados e editados, e de um uso cada vez mais complexo de projeções e telas", conta Solange Farkas, diretora do Videobrasil e curadora da mostra.
Além de quatro grandes instalações no Sesc Pompeia, "Geopoéticas" vai apresentar 11 filmes de Julien, realizados entre 1984 e 2008.
Eles serão exibidos pelo canal SescTV durante a exposição. Para cada filme, Julien gravou uma pequena introdução, na qual aborda as questões essencial das produções.
A migração para as artes visuais, no fim dos anos 1990, na verdade significou um retorno. Julien, 52, estudou arte na St. Martin's School, em Londres, com figuras como o pintor Peter Doig e o estilista John Galliano.
"Era um período de exploração de diferentes abordagens para a arte, havia uma forma interdisciplinar de pesquisa, diferente do que ocorre hoje", lembra o artista.
"Eu era interessado em pintura e em moda, e escolhi cinema porque ele reunia todos esses aspectos."
Seus primeiros filmes, como "Looking for Langston" (1989), estiveram inseridos na cena underground londrina dos anos 1980 e seguiam uma estética "queer", como o desejo de negros gays, como outros cineastas de sua geração.
Não por acaso, sua mais recente produção para cinema, "Derek" (2008), feito em colaboração com a atriz Tilda Swinton, faz homenagem ao cineasta "übergay" Derek Jarman (1942-1994). "Looking for Langston" e "Derek" serão exibidos pelo SescTV.
A fértil cena independente, contudo, não durou muito. "Acabou e antecedeu a chamada 'Jovem Arte Britânica', a partir de 1993", diz.
O novo grupo foi capitaneado por artistas como Damien Hirst e Tracey Emin, ainda hoje com forte repercussão, mas ganha de Julien a definição: "Crianças fashionistas, conectadas ao mercado de arte."
Exposição reúne obras autobiográficas
As imagens deslumbrantes das paisagens de desertos africanos ou de lagos em florestas chinesas que fazem parte das obras recentes de Isaac Julien, estão longe de ser meros cartões postais.
Tais locais costumam esconder tragédias, que se transformam na matéria central das produções do artista britânico. "Eu sempre estive interessado em alegorias políticas", diz Julien.
Em "Ten Thousand Waves", de 2010, ele parte da morte de 23 chineses em Morecambe Bay, na Inglaterra, em 2004, para tratar da cultura chinesa de forma complexa.
Esse tipo de procedimento é chamado por Julien, de "etnografia poética". "No fim", diz ele, "é um trabalho sobre mim mesmo, sobre a poética do viajar".
A mescla de suas origens -ele nasceu em Londres, em uma família caribenha com origens africanas- resultou em "Fantôme Créole", de 2005, e relaciona expedições coloniais ao continente africano. Suas origens estão ainda em "Paradise Omeros" (2002).
Finalmente, faz parte ainda da mostra "O Leopardo", de 2007, inspirado no filme homônimo de Luchino Visconti (1906-1976).