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julho 25, 2012
Mostras retomam abstratos geométricos por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Mostras retomam abstratos geométricos
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no Caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo em 21 de julho de 2012
Quando a Pinacoteca do Estado abrir neste sábado (21) sua aguardada retrospectiva dedicada a Willys de Castro, artista morto aos 62 em 1988, terá começado um segundo momento de euforia em torno dos concretistas na cena global.
Nos últimos 20 anos, Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape têm magnetizado o interesse do mercado e de museus do mundo todo, que vêm exaltando a abstração geométrica forjada no Brasil.
Já consagrados no circuito, esses artistas agora dão lugar a outra leva de autores que trabalharam na mesma época, a virada dos anos 50 para os anos 60, e desenvolveram pesquisas análogas.
Willys de Castro, figura híbrida do construtivismo nacional, que flertou tanto com o grupo paulista liderado por Waldemar Cordeiro quanto com os cariocas galvanizados por Ferreira Gullar, é um dos primeiros relembrados.
"Ele era um homem muito meticuloso, rigoroso", descreve Regina Teixeira de Barros, curadora da mostra na Pinacoteca. "Com essa valorização do Willys e dessa geração, começamos uma discussão para separar o joio do trigo na obra dele, criar parâmetros de entendimento."
Também no sábado, a Caixa Cultural, no centro de São Paulo, abre uma exposição com obras de Hércules Barsotti, que morreu aos 96 há dois anos. Ele viveu com Castro, com quem fundou o Estúdio de Projetos Gráficos em 1954.
Será possível comparar a produção racional de Castro ao cromatismo potente de Barsotti. "Eles trabalharam juntos a vida toda, mas o Willys não tem essa investigação com a cor, é mais a percepção", diz Teixeira de Barros. "Já Barsotti se interessa pela relação entre as cores."
BIENAL
Em setembro, a Bienal de São Paulo vai resgatar a figura de Waldemar Cordeiro, artista morto aos 48 em 1973, que fundou o Ruptura -grupo que foi espécie de embrião do concretismo paulista, influenciando Castro e Barsotti num primeiro momento.
"Cordeiro talvez seja uma figura mais política", analisa Luis Pérez-Oramas, curador da Bienal. "A arte de Barsotti é um laboratório de formas; a obra de Castro é aberta ao espaço, em que a percepção ocorre entre os corpos."
Na definição de Pérez-Oramas, Cordeiro "interpela em termos quase antropológicos os acontecimentos culturais de seu momento histórico".
"Ele enxergava para onde ia a sociedade", diz Analívia Cordeiro, filha do artista. "Hoje há uma releitura do que se dizia nessa época, essas pessoas estão sendo revistas, o que elas faziam não era só um tipo de moda."
"poética dos ângulos" Enquanto a Bienal planeja construir uma réplica em tamanho real do parque infantil feito por Cordeiro no clube Esperia, em São Paulo, a Pinacoteca exibe um conjunto poderoso de obras de Castro.
Na mostra, está grande parte de sua série "Objetos Ativos" em que o artista anula o caráter bidimensional e figurativo da pintura ao cobrir sarrafos de madeira com tela, obrigando o espectador a caminhar em torno da peça para ver todos os ângulos.
"É um olhar que não dá conta da totalidade da pintura", diz Teixeira de Barros. "Neste sentido, ele se aproxima dos neoconcretos, porque é a experiência do público que faz a obra acontecer."
Nos anos 80, Castro depurou esses experimentos em formas mais simples, esculturas verticais de metal ou madeira, os "Pluriobjetos", que também trabalham com a lógica do deslocamento do público em torno das peças.
São obras que refletem uma "poética dos ângulos", nas palavras de Cláudia Lopes, curadora da mostra de Barsotti, na Caixa Cultural.
"Willys de Castro e Barsotti eram geômetras e têm uma obra voltada para a matemática", diz Lopes."Mas no caso do Barsotti, embora sejam figuras geométricas, aquilo tem vida, energia, uma emoção que transcende a forma."