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julho 25, 2012
Artes nas ruas, desafios para artistas por Carlos Guimarães Coelho, Correio de Uberlândia
Artes nas ruas, desafios para artistas
Matéria de Carlos Guimarães Coelho originalmente publicada no Transe Cultural do Correio de Uberlândia em 25 de julho de 2012
Quando vai para as ruas, a arte assume uma dimensão que talvez seja a dimensão mesma de seus berços, de origens manifestas no compartilhamento aberto a quem deseje apreciá-la. Em Uberlândia, até há poucos anos, era raridade observar no contexto urbano obras ou cenas que chamassem a atenção dos transeuntes.
Hoje, a cidade abriga alguns grupos de artes cênicas especialistas nessa modalidade e iniciativas tímidas de artes visuais, a maioria sob os viadutos. No fim de semana, o Grupontapé de Teatro expressou-se cenicamente na rua, para os vizinhos de sua sede, por meio do espetáculo “Balaio de mamulengos e cordéis”. Foi curioso ver a receptividade da vizinhança à montagem, de grande singeleza e criatividade. Na tarde de festa cênica, foi perceptível não somente a alegria dos moradores pelo presente, mas também como o artista sente-se livre no espaço ao ar livre, em contato bem mais direto com a plateia.
No mesmo caminho do Grupontapé, seguem os grupos Tamboril, Teatro No Mi, Faz de Conta e Coletivo Teatro da Margem, uma quantidade expressiva de trupes teatrais desejosas de dizer algo por meio do teatro de rua. Expressiva pelo fato de essa presença ser recente e também pelo compromisso que cada um destes grupos assume de realizar um teatro, território por si cheio de adversidades, em um formato ainda mais complicado, seja na montagem, no retorno financeiro ou nas dificuldades de utilização do espaço público.
À exceção do Grupontapé e do Faz de Conta, que se estabeleceram como sólidas empresas teatrais e recorrem a outras linguagens cênicas em seus repertórios, a sobrevivência e manutenção de tais grupos se dão de modo muito conturbado, geralmente por meio das leis de incentivo e dos chapéus que rodam após as apresentações e quase sempre rendem valores bastante distantes do custo real de cada apresentação.
Quem vai para as ruas é por que aposta de fato no seu ofício. No caso das artes visuais, mais raras fora das galerias, imagino que os processos sejam diferentes, que existam verbas públicas para que elas se instalem e sejam pontos de apreciação estética, embelezando e humanizando a cidade. Ainda assim, fica sempre dependente da tal vontade política, neste caso que requer também sensibilidade artística, o que nem sempre acontece.
Soube de um episódio recente, envolvendo um artista visual da cidade que projetou, para uma rotatória, interessante conjunto de esculturas. Embora o projeto, em primeira instância, tenha sido aprovado, esbarrou em questões extremamente burocráticas, que hoje nem é possível dizer se ele vai adiante. Caso isso aconteça, perde a população a chance de ver emergir sobre a paisagem árida um processo criativo que traria novos paradigmas à paisagem.