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julho 16, 2012
Exposição de Modigliani tem obra suspeita e curador sob investigação por Gabriela Longman e Matheus Magenta, Folha de S. Paulo
Exposição de Modigliani tem obra suspeita e curador sob investigação
Matéria de Gabriela Longman e Matheus Magenta originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 14 de julho de 2012.
'Grande Figura Nua Deitada' teve sua autenticidade questionada ao ser exposta na Alemanha
Condenado em 2008 por expor obras falsas, Christian Parisot se diz perseguido por rival e por casas de leilão
Um dos eventos mais importantes do Momento ItáliaBrasil, a mostra "Modigliani: Imagens de Uma Vida", em cartaz até amanhã no Masp, exibe uma obra que já teve a autenticidade questionada.
Em 2009, a tela "Grande Figura Nua Deitada - Celine Howard" foi o centro de uma discussão após ser exposta em Bonn, na Alemanha. Analisado, o quadro conteria um pigmento não usado em pinturas da época do artista.
Já a obra "Retrato de Marevna" chegou a ser proposta pelo francês Christian Parisot, um dos curadores da mostra, mas os responsáveis brasileiros a rejeitaram por dúvidas sobre sua autenticidade -em 2011, um colecionador apontou o quadro como falso após exibição no museu Pushkin, na Rússia.
O nome de Parisot está no cerne da polêmica.
Responsável pelo Institut Modigliani Archives Legales - Paris Rome, Parisot foi condenado em 2008 pela Justiça francesa por exibição de falsos desenhos, atribuídos a
Jeanne Hébuterne, mulher do artista italiano Amedeo Modigliani (1884-1920).
Sobre a condenação, Parisot diz que os desenhos passaram por processo errôneo de restauro e que ele pagou a multa estipulada. Atualmente, é investigado em três casos envolvendo falsificação e emissão de certificados indevidos de autenticidade.
"[Parisot] já não tem a confiança do mercado de arte. Se um expert faz exposições, negócios e emite certificados ao mesmo tempo, temos um problema. Isso não é mais aceito", afirmou à Folha Henrik Hanstein, diretor da casa de leilão Lempertz, a mais prestigiada da Alemanha.
"Nenhum grande museu faria uma exposição de Modigliani com Parisot", disse.
Imagens de quatro obras da mostra brasileira foram enviadas à casa de leilões Sotheby's para avaliação.
Em resposta, o vice-presidente de belas-artes, Thomas Denzer, disse com brevidade: "Esses trabalhos não são para a Sotheby's. Espero que isso ajude [sua pesquisa]".
Parisot afirma que as casas de leilão ouvidas pela reportagem são ligadas, por interesse comercial, ao Instituto Wildenstein, que disputa com ele a autoridade sobre a obra de Modigliani.
"Madame, chame a polícia". Assim reagiu Marc Restellini, diretor da Pinacothèque de Paris, importante museu dedicado à arte moderna, ao ser questionado sobre o curador da mostra de Modigliani no Brasil. "Esse homem é um falsário, um criminoso".
Restellini, ligado ao Instituto Wildenstein, e Parisot são inimigos de longa data. A disputa passa pela realização do catálogo "raisonné" (reunião integral das obras que serve a conferir autenticidade a peças) do italiano.
MOSTRA
Com R$ 2,3 milhões captados via Lei Rouanet, a mostra foi trazida ao Brasil pela produtora Museu a Céu Aberto. Já passou pelo Palácio Anchieta, em Vitória, onde foi vista por mais de 36 mil pessoas, pelo Museu de Belas Artes, no Rio, e pelo Masp.
A exposição segue agora para o museu Oscar Niemeyer, em Curitiba.
A curadoria é assinada por Parisot e por Olivio Guedes, diretor cultural do Museu a Céu Aberto e representante em uma empresa de licenciamento de produtos com imagens do pintor (leia abaixo).
Em 2007, a produtora já tinha tentado trazer obras do pintor ao país, mas teve um pedido de captação negado pelo MinC por causa do alto valor (quase R$ 15 milhões).
Segundo Paulo Solano, sócio da produtora, a mostra traria ao Masp obras do acervo de grandes museus do mundo, como a Tate Gallery.
Como plano B, a produtora procurou Parisot já em 2008. Segundo a assessoria da mostra, as pinturas expostas pertencem a colecionadores particulares de quatro países e ao Institut Modigliani.