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junho 21, 2012
Exposição em SP reúne 70 gravuras de Jasper Johns por Agência Estado, Veja
Exposição em SP reúne 70 gravuras de Jasper Johns
Matéria da Agência Estado originalmente publicada na Veja em 18 de junho de 2012.
São Paulo - Acossado pela filosofia de Wittgenstein, o pintor e gravador norte-americano Jasper Johns emergiu na cena norte-americana no fim dos anos 1950 como uma voz dissonante, que não acreditava na anárquica liberdade gestual dos expressionistas abstratos, mas na lógica matemática. Tampouco se identificava com os representantes da então nascente pop art, apesar de ser frequentemente classificado como um dos expoentes do movimento. Irreverente ele sempre foi, mas não cínico como Andy Warhol. Entre os 30 pintores vivos mais caros do mundo, Johns nunca teve uma exposição à altura de sua importância no Brasil. "Pares, Trios e Álbuns", que o Instituto Tomie Ohtake abre nesta terça-feira, introduz finalmente o trabalho de Johns ao público brasileiro, apresentando 70 gravuras concebidas de 1960 em diante, inclusive sua primeira experiência na técnica.
Na época, o pintor começava a ser notado pelo mercado, após fazer sua primeira exposição individual, em 1958, na galeria de Leo Castelli, marchand que bancou toda a geração da arte pop. E foi incentivado por Tatyana Grosman (1904-1982) que ele produziu sua primeira série de litografias. Filha de um tipógrafo siberiano, que emigrou para os EUA na época da guerra, Tatyana fundou, em 1957, uma oficina de gravura que logo se transformou na Meca dos artistas americanos da geração de Jasper Johns. No começo, era apenas uma oficina na garagem de sua casa, em West Islip, Long Island, a uma hora de Nova York, mas cresceu e virou a Universal Limited Art Edition (Ulae), especializada na edição de obras de arte, que organizou a mostra, patrocinada pelo Deutsche Bank.
Bill Goldston, amigo de Jasper Johns e curador da mostra, conta que escolheu justamente a primeira série de litografias do artista para abrir sua exposição porque ela sintetiza como nenhuma outra sua filosofia, que, como se disse, é marcada por Wittgenstein. Se o pensador austríaco havia inventado uma teoria pictórica do significado, tentando provar que é possível representar o mundo por meio da linguagem, por que um pintor não poderia fazer uso desse conceito na arte? Obcecado pela precisão matemática, ele desenvolveu séries em pares e trios. A de 1960, que fez para Tatyana Grosman, começa com um grande número zero e vai até o nove. "Ele modificou a pedra inaugural e conseguiu fazer três edições, uma com os dígitos em preto, outra em cinza e ainda uma terceira em cores", explica Goldston.
Johns, que, aos 82 anos, vive sozinho em sua casa, em Connecticut, não parou de experimentar combinações matemáticas - pares e trios - desde então. Um pode funcionar na vida real, mas dois parece um número melhor. Goldston revela que, além de se alimentar dos vegetais que produz na horta de sua casa, onde cultiva um belo jardim, o artista continua a pintar telas gigantescas e a produzir gravuras, muitas delas adotando essas pinturas como referência. "Ele foi o primeiro artista americano a usar a impressão offset para produzir gravuras em 1971", lembra o curador. O marco zero dessa técnica é uma obra que ele classifica entre as melhores, "Decoy" (Armadilha). Johns usou nela uma chapa fotográfica das provas rejeitadas em dois álbuns de águas-fortes, usando uma ferramenta para criar um orifício, que o artista explicou se tratar de uma "saída".
A exposição "Pares, Trios e Álbuns" atesta a honestidade intelectual de Johns e, em particular, sua criatividade. Infelizmente, parte do trabalho que fez em colaboração com outros artistas, músicos e literatos, não coube na mostra. Teria sido uma boa oportunidade para ver "Fizzles", série de gravuras em que dialoga com a densa obra do dramaturgo irlandês Samuel Beckett. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.