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junho 4, 2012
"Emoção Art.ficial" tem última edição no Itaú Cultural por Silas Martí, Folha.com
Emoção Art.ficial" tem última edição no Itaú Cultural
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha.com em 30 de maio de 2012.
Foram dez anos de obras que combinam inteligência artificial, interatividade em tempo real, transmissão de dados, muita energia elétrica e certa pirotecnia visual.
Mas agora o Itaú Cultural, que abre hoje a sexta edição de sua tradicional mostra bienal de arte tecnológica "Emoção Art.ficial", decidiu encerrar o ciclo, dizendo que essa produção não precisa mais estar isolada do resto da arte contemporânea.
"Muita coisa evoluiu", diz o curador da mostra, Marcos Cuzziol, brincando com a projeção de uma estrela do mar na montagem. "É inegável que o deslumbramento que havia no início não existe mais. Há uma evolução da tecnologia e uma apropriação desta pelas pessoas."
Também tem a febre de marketing em torno desse tipo de trabalho e um arrefecimento do "hype", que já pôs empresas (em especial do setor de telecomunicações) em pé de guerra inventando e patrocinando festivais do gênero. É fato que Vivo e Oi ainda estão no páreo, mas Nokia e Motorola já caíram fora.
Depois de uma aguardada renovação, o Museu da Imagem e do Som, que tentou fincar um espaço fixo para o gênero em São Paulo, também teve suas propostas revistas, e o foco voltou para manifestações mais convencionais, como cinema e fotografia.
Enquanto isso --e também porque telas sensíveis ao toque são hoje a "coisa mais normal do mundo", nas palavras de Cuzziol--, o mercado vê com menos exotismo a arte em novas mídias.
"Um motivo para separar a arte tecnológica do resto era a não compreensão dessa poética. Tinha gente que achava que isso nem era arte", diz Cuzziol. "Mas a gente sabia que haveria um limite de tempo para essa separação."
Tanto que em 2014, segundo o curador, o Itaú Cultural volta a expor obras tecnológicas ao lado de trabalhos em suportes tradicionais, num contexto "mais híbrido".
Mas, enquanto isso não acontece, a mostra que abre hoje exibe o tradicional arranjo de obras high-tech --robôs que identificam o rosto dos visitantes, painéis que permitem aos usuários escrever e projetar seus pensamentos, a imagem de uma estrela do mar que estica e encolhe, reagindo ao toque...
Uma das obras tem um arsenal de smartphones instalados diante de um microfone. Estão programados para reconhecer palavras em inglês, espanhol, francês, português e até russo e polonês. Quando alguém diz alguma coisa, eles devolvem o vocábulo distorcido em várias línguas --é a tentativa de decifrar essa poética eletrônica.