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junho 4, 2012
Céu na terra por Paula Alzugaray, Istoé
Céu na terra
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 25 de maio de 2012.
Com técnicas artesanais, Maria Nepomuceno transforma a sala e o jardim da casa de Eva Klabin em ambientes solares
Em 2006, a artista carioca Maria Nepomuceno atirou aos foliões do bloco carnavalesco Cordão da Bola Preta, no Rio de Janeiro, uma bola cor-de-rosa de dois metros de diâmetro, com a inscrição da palavra amor. As imagens da folia com a bola – até ela tomar uma facada e dar seu último suspiro no asfalto – foram editadas no vídeo “Expiro”. A mesma bola já havia circulado pela praia do Leme num domingo de sol. Embora Maria não tenha subido a Santa Teresa para soltar a bola “Amor” no tradicional bloco de marchinhas e maxixes do morro, hoje na exposição “O que Não Tem Fim Nem Tem Começo”, na Fundação Eva Klabin, ela evoca simbolicamente o bloco Céu na Terra. Isso porque, na grande sala da casa que pertenceu à colecionadora Eva Klabin, Maria Nepomuceno despejou milhares de contas e esferas azuis, de tons e tamanhos variados, que pendem de lustres e se amontoam sobre os valiosos tapetes, sofás e as peças de arte de quatro continentes e até cinco séculos de idade. Os volumes azuis são como corpos que caíram do céu.
“O azul para mim está relacionado à espiritualidade e transcendência”, diz Maria Nepomuceno. “Realizar esse trabalho é como dotar de energia vital uma sala imortalizada pela história”, afirma a artista, que também relaciona os azuis de sua instalação aos trabalhos do francês Yves Klein e à performance “Alviceleste”, da carioca Marcia X. Maria foi convidada pelo curador Marcio Doctors a integrar, ao lado de Sara Ramo, a 15ª edição do Projeto Respiração, que desde 2004 propõe diálogos de arte contemporânea com o acervo da Fundação Eva Klabin.
Há quase dez anos Maria Nepomuceno se dedica a construir objetos escultóricos desenvolvidos a partir de tradições manuais da costura e do artesanato. Ela começou em 2003, trabalhando com chapéus de palha trançada, procurando radicalizar suas formas e escapar da convenção dos objetos utilitários. Depois vieram as redes. No jardim da Fundação Eva Klabin ela expõe uma de suas redes inutilizáveis. Trata-se de um objeto sedutor e convidativo, que não pode ser usado, apenas contemplado.
Com sua instalação solar, Maria Nepomuceno ocupa pela primeira vez o jardim da casa. A luminosidade e a vitalidade sugeridas por seus trabalhos contrastam com os elementos da outra intervenção desse Projeto Respiração. “Penumbra”, de Sara Ramo, é uma instalação noturna, criada dentro do quarto, do closet e do banheiro da antiga dona da casa, concebida para ser vista no escuro. Como se estivesse na sala escura de um cinema, o espectador é convidado a enfrentar seus fantasmas e encarar aquilo que é inatingível com os olhos: a imaginação.