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junho 4, 2012
O homem diante do espelho por Nina Gazire, Istoé
O homem diante do espelho
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 25 de maio de 2012
Diz-se que a alteridade é uma condição, que define que o homem jamais poderá se entender como um ser isolado. Ele é sempre um reflexo, espelhando suas relações e individuações a partir de seu contato com o exterior, com o outro. A figura do espelho social, no qual as alteridades são constantemente dadas, é o mote da dupla suíço-brasileira composta por Maurício Dias e Walter Riedweg. E, para entrar nesse espelho, os artistas elegeram o vídeo como ferramenta para experimentações, registros e reflexões sobre o outro.
Na retrospectiva “Estranhamente Possível” pode-se perceber como, segundo a dupla, a ideia de alteridade é sempre uma referência mutável. Nos seis trabalhos – videoinstalações, fotografias e performances feitas entre 2002 e 2012 –, a questão do outro e seus meios é trabalhada em diferentes âmbitos. Seja explorando as diferenças em culturas distantes, como em “Juksa”, de 2006, centrado no depoimento dos últimos três habitantes de uma pequena ilha no Polo Norte, seja em questões de gênero, como é o caso de “Paraíso Cansado”, em que um experimento poético é realizado para investigar o turismo sexual nas Ilhas Canárias.
O trabalho mais recente, “Água de Chuva no Mar”, foi produzido este ano em uma residência artística a convite do MAM-Bahia, em conjunto com a comunidade do Solar do Unhão, próxima ao museu. Para a realização do trabalho, os artistas conviveram durante um mês com habitantes dessa comunidade composta majoritariamente por famílias comandadas por mulheres. Desde os tempos mais remotos, elas dependeram da fonte de água do engenho de açúcar, onde hoje está o museu. A história do local é revivida em depoimentos de lavadeiras, que evocam suas antepassadas. “Além do trabalho da residência, escolhemos para a exposição obras que dialogam não só com a comunidade onde o museu está inserido, mas também com a cidade de Salvador, onde a questão das alteridades sempre esteve latente”, comentam Dias e Riedweg, que se definem mais como “bons contadores de histórias” do que artistas.