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junho 4, 2012
Mostra reúne as glamourosas fotos de José Esteve e sua filha Aracy por Simonetta Persichetti, O Estado de S. Paulo
Mostra reúne as glamourosas fotos de José Esteve e sua filha Aracy
Matéria de Simonetta Persichetti originalmente publicada no caderno de Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 4 de junho de 2012.
'Do Retrato Interior ao Exterior do Retrato: Coleção José Esteve e Aracy Esteve Gomes 1920-1970' entra em cartaz na Pinacoteca do Estado de São Paulo a partir do dia 09
José Esteve, catalão, nascido em Barcelona em 1886, queria fazer a América. Aos 28 anos, em 1914, embarcou no navio Santa Helena e desembarcou no Rio. Químico de formação, começou porém a trabalhar numa fábrica de piteiras. Dois anos depois resolveu morar em Salvador, mas a peste negra já havia chegado ao Estado e ele, assustado, decidiu, então, mudar-se para o interior, mais precisamente para Santo Antonio de Jesus. Foi nessa cidade que ele se casou, teve filhos e começou a construir sua carreira de narrador fotográfico. De 1920 até 1934 ele registrou sua família, os amigos, o cotidiano da cidade. Imagens que foram preservadas por sua filha, Aracy Esteve Gomes, que segue os mesmo passos do pai e durante 20 anos, de 1950 a 1970, narrou seu entorno.
Desse encontro de olhares nasce a exposição Do Retrato Interior ao Exterior do Retrato: Coleção José Esteve e Aracy Esteve Gomes 1920-1970, com curadoria e pesquisa de Diógenes Moura, a partir de sábado, dia 9, na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Saudoso de sua família, José Esteve construiu ele mesmo sua câmara fotográfica e seu laboratório. Começou a registrar seus amigos, a família, o entorno de seu cotidiano, além de trocar inúmeros cartões-postais com a Barcelona deixada para trás. Aos poucos, com seu olhar de amador, mas sofisticado e glamouroso, foi construindo uma memória de seu tempo e também de uma cidade do interior da Bahia: “Seus retratos são impressionantes. Seguem a lógica romântica do retrato europeu. Incrível notar os cenários que ele criava para fotografá-los”, nos narra Diógenes Moura.
Assim, aos poucos, esse homem que inventou sua própria câmera nos traz à mostra a sofisticação, a elegância de toda uma época sempre acompanhado por sua assistente, a filha Aracy, que começa a se apaixonar perdidamente pela fotografia. Infelizmente, com a crise de 1929 na bolsa de valores americana e com os negócio indo cada vez pior, em 1934 ele abriu falência e mudou-se com a família para Salvador. Dez anos depois José Esteve morreu.
Vai então a vez de Aracy, nessa época já casada com o grande amor de sua vida, o escultor Arlindo Gomes, que em 1950, resolveu retomar a escrita imagética deixada por seu pai. Com a ajuda do marido, em 1950 conseguiu importar sua Rolleiflex e retomar o caminho deixado por ele. Assim como José, Aracy fotografava sua família, seus amigos, sua vida cotidiana: “Era uma fotografia despretensiosa, com muito humor, mas sem nenhuma construção intelectual e ao mesmo tempo com uma estética fascinante”, comenta o curador.
Durante 20 anos, Aracy também registrou seu entorno. Primeira mulher a dirigir automóvel em Salvador, pegava o carro da família e ia fotografar a cidade. Encontro imagético entre pai e filha, cuja única preocupação era com a memória. Uma memória pessoal que acabou por se transformar em documento de uma época.
E foi esse seu pioneirismo que a levou, há dois anos, a procurar Diógenes Moura para tornar esta exposição pública. Hoje, às vésperas de completar 90 anos, Aracy Esteve Gomes, toma conta de todo esse material em seu apartamento em Salvador. Relíquia de uma época contada agora para nós em 80 imagens selecionadas de seu arquivo.