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maio 31, 2012
Nuno Ramos abre mostra em BH com série de trabalhos que resumem sua trajetória por Sérgio Rodrigo Reis, uai
Nuno Ramos abre mostra em BH com série de trabalhos que resumem sua trajetória
Matéria de Sérgio Rodrigo Reis originalmente publicada no caderno Cultura do jornal Uai em 16 de maio de 2012.
Fazem parte da exposição desenhos, instalações e pinturas. Artista diz que mantém parceria produtiva com Minas
O artista plástico Nuno Ramos, diante do Brasil, “um país onde tudo está pronto e não está, onde há ainda muito o que fazer”, se deleita. “É o mais legal daqui”, conta ele, que se alimenta desse caos, e das soluções encontradas para os problemas nacionais, para criar e conceber a própria obra, seja nas artes plásticas, na literatura, no cinema e na música. “Essa confusão é a minha estética”, resume ele, cheio de projetos em andamento nas mais variadas áreas de atuação, boa parte com interface com Minas Gerais. A abertura da exposição Só lâmina, nesta quinta para o público, no Sesc Palladium, em Belo Horizonte, é oportunidade para uma aproximação com o processo criativo do artista.
A mostra reúne 11 desenhos, oito deles representações visuais de estrofes do poema Uma faca só lâmina, de João Cabral de Melo Neto. Também apresenta Luz negra, instalação feita a partir de caixas acústicas que, no chão, tocam a canção Juízo final, de Nelson Cavaquinho. Em outro momento da exposição, dois blocos de pedra, um diante ao outro, estabelecem diálogo a partir do texto escrito pelo artista e lido pelos atores Gero Camilo e Marat Descartes. “A mostra foi adquirida pelo Sesc e já circulou por mais de 40 cidades. É, essencialmente, meu pé na estrada. Tentei propor uma antologia, dando conta da diversidade de gênero e linguagem com que trabalho”, explica Nuno, que estará presente na abertura.
São grandes os projetos aos quais o artista se dedica atualmente. Além de letras de canções, feitas em parceria com Rômulo Froes e com Clima, que deverão se desdobrar em discos em breve, flerta com a literatura, quase diariamente. Autor premiado com várias obras publicadas, entre elas o livro de contos Ó e o de poesia Junco, ambos da Editora Iluminuras, ele prepara para ano que vem Os sermões, livro poético ambientado em Ouro Preto. “É verso, mas prefiro chamar de prosa entrecortada. Será um livro longo, erótico e o nome é referência a um personagem que, quando vai à praia, sobe num banquinho e começa a fazer seu sermão”, adianta.
No entanto, são os projetos de artes visuais que mais o aproximam de Minas. “A cada 15 dias estou aí, culpa do Allen Roscoe”, diz ele, citando a parceria com o arquiteto mineiro que o tem ajudado a tirar do papel a maioria de suas obras. “É um privilégio trabalhar com ele. Me dá segurança, entro com as ideias e ele com a execução, que não é só o lado mecânico do processo, mas também o criativo. Depois que entrou na minha vida, tudo melhorou.” Como trabalha com projetos inéditos, a maioria deles concebidos no limite físico dos materiais empregados na elaboração das peças, a contribuição do arquiteto, que também é engenheiro mecânico, tem sido primordial. Durante muitos anos, Allen manteve parceria semelhante com escultor Amílcar de Castro (1920-2002).
No chão As soluções para os projetos desenvolvidos para a exposição que Nuno Ramos planeja para agosto, na Celma Albuquerque Galeria de Arte, em Belo Horizonte, têm sido desenvolvidas em Nova Lima pelo arquiteto. “Estou com o coração nela”, avisa Nuno, que vai, literalmente, quebrar todo o chão da galeria para realizar uma enorme instalação no espaço. Ela é inspirada em casas onde morou e na notícia inusitada de um homem que foi cavar um poço artesiano e acabou atingindo um vulcão, que passou a jorrar lava, inundando toda a região próxima ao buraco.
Cada casa onde morou será lembrada por Nuno Ramos por meio de cortes dos cômodos, que serão reproduzidos no chão da galeria mineira em tamanho real, como piscinas. Elas serão preenchidas com lama preta, outra com lama branca e, a última, com material marrom. “Vou escolher partes de cada uma das casas que surgirão do chão. É como se a lama e o que está sobre ela fossem estágios diferentes da mesma matéria. Quase como se a casa tivesse voltado a ser novamente matéria”, explica. O projeto que fará em Viena, na Áustria, no ano que vem, seguirá raciocínio parecido.
O outro projeto que está sendo desenvolvido junto com Eduardo Climachauska é O globo da morte de tudo, que será apresentado em dois momentos na Galeria Anita Schwartz, no Rio de Janeiro, em novembro. Na abertura da mostra, o visitante verá prateleiras de sete metros de altura com cerca de 5 mil objetos quebráveis, sustentando dois globos da morte em perfeito equilíbrio. Quinze dias depois, dois motociclistas ocuparão os postos dentro dos globos e farão as apresentações, desestabilizando tudo em volta e provocando a queda dos objetos. “O resultado será o segundo momento da exposição, que poderá ser visto por mais 45 dias. Tudo será amplamente documentado e catalogado”, antecipa.