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maio 24, 2012
Instalação de Daniel Caballero no Paço das Artes questiona o verde urbano por Ricardo Cardim, blog Árvores de São Paulo
Instalação de Daniel Caballero no Paço das Artes questiona o verde urbano
Entrevista a Ricardo Cardim originalmente publicada no blog Árvores de São Paulo em 8 de maio de 2012.
Daniel Caballero, Artista apresentado recentemente aqui no Blog, tem trazido interessantes reflexões sobre o verde presente na cidade de São Paulo e sua real “naturalidade”, assim como a ocorrência dos raros remanescentes da paisagem original. Na instalação inaugurada ontem no Paço das Artes na Cidade Universitária, ele traz interessantes abordagens sobre o tema, com desenhos precisos e composições que valem uma visita. Abaixo, uma breve conversa sobre seu último trabalho:
Como começou essa proposta?
Sempre que saio na rua, observo detalhes que anoto, fotografo ou desenho. Em um desses passeios urbanos, parei para ver uma árvore na calçada, com a copa dividida pela fiação elétrica. A árvore com o grande buraco no meio, me levou a pensar em topiaria, e jardins franceses. Que tipo de jardinagem sem intenção é essa? Seria um tipo de topiaria inconsciente? Seja como for, e claro, bem distante dos jardins de Versalhes, me perguntei sobre a consequência dessa jardinagem no nosso dia a dia. A partir daí comecei a pesquisar áreas naturais no espaço urbano.
Assim, aos poucos comecei a me sentir como um naturalista viajante, um tipo de Rugendas que retrata o exótico, bem do lado da minha casa.
O que você retratou nas suas esculturas e desenhos?
Encontrei coisas muito curiosas, por exemplo, por que pintar uma pedra de branco? por que ter uma jardineira com grama em cima de um gramado? Tive um atordoamento nos sentidos pelo grande número de casas sendo demolidas para construção de prédios. De repente ruas e referências familiares mudam e a geografia da cidade vira outra coisa. Como podemos gostar de um lugar, onde cada vez menos temos memórias, nem relações afetivas com a paisagem?
É uma colagem que só percebemos saindo da rotina diária.
Que tipo de natureza você encontrou?
Não existe natureza propriamente dita em São Paulo, no sentido de um lugar que vive e se desenvolve com autonomia própria. O que existe são representações da natureza. É muito dificil termos certeza quanto tempo uma árvore na calçada vai viver, elas estão a mercê dos caprichos dos governantes, das vorazes empreiteiras e dos próprios moradores . Da mesma forma, gramados, são carpetes vivos, construídos para pedestres andarem por cima, pobres como ambiente natural. Mas é claro que alguns organismos da natureza se adaptam bem, tem muitos insetos nos gramados, e muitos ratos nos esgotos. De qualquer forma, a questão é que a cidade é totalmente impermanente, tudo muda e a natureza real tenta existir apenas em áreas invisíveis.
Áreas invisíveis?
Sim, terrenos baldios momentaneamente abrigam natureza, eles passam como áreas invisíveis, que ninguem cuida, ninguem vê. Enquanto são potencialmente algo, mas não são nada para as pessoas, a natureza as vezes sobrevive. Um bom exemplo é o cerradinho atrás do Extra do Jaguaré – atual Parque Usteri. O que era aparentemente um terrenão baldio, é na verdade é uma pequena e rara amostra da paisagem original da cidade.
Como essa pesquisa influênciou teu trabalho?
Meus últimos trabalhos, partiram de desenhos de observação até chegar nas instalações. Sempre abordei aspectos de uso do espaço urbano, e já vinha flertando esse embate entre artificialidade e natureza, mas acho que essa pesquisa deixou mais evidente esse confronto.
Prefiro ser um artista de campo, o ar puro ou não da cidade revela muitas coisas interessantes.
Acho que o Daniel conseguiu ver algo que está na ponta do nariz de todo mundo,acho isso uma experiencia artística fabulosa e muito inteligente
Posted by: Newman Schutze at maio 29, 2012 11:19 AM