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maio 16, 2012
Mercado vibrante em dias de crise por Élder Beja, Ponto Final
Mercado vibrante em dias de crise
Matéria de Élder Beja originalmente publicada no portal Ponto Final em 15 de maio de 2012.
A arte contemporânea chinesa continua a ser uma oportunidade de investimento para coleccionadores, mas os especialistas alertam: antes de comprar, o trabalho de casa deve ser bem feito.
O mercado de arte contemporânea chinesa continua a estar numa espécie de estádio de desenvolvimento, quando comparado com o congénere ocidental. Esta é, pelo menos, a opinião do especialista da leiloeira Christie’s, Eric Chang, que acredita que a tendência deve manter-se nos próximos tempos.
“Ainda há muito espaço para crescer e estamos confiantes nisso mesmo devido a alguns factores: o cenário económico asiático, impulsionado especificamente pela China; o aumento da participação de compradores chineses abastados em diversas categorias, incluindo a arte contemporânea; e uma rede mais global de coleccionadores interessados nestas colecções específicas”, explica Chang.
A crise económica e financeira que afecta todo o mundo pode ser uma boa razão para adquirir peças de arte. No entanto, ao que parece, este investimento surge sempre como uma oportunidade, se os compradores souberem o que estão a fazer e a comprar. Já no caso de obras assinadas por artistas consagrados, há um alerta que se mantém: prepare-se para gastar muito dinheiro.
“Zhang Xiaogang, Fang Lijun, Zeng Fanzhi e muitos outros nomes são artistas estabelecidos que já provaram ao mundo que têm um estilo único e criações com qualidade que lhes valeram exposição mediática”, aprecia o especialista de arte contemporânea asiática da Sotheby’s, Jonathan Wong.
Eric Chang relembra que “o mercado de arte é muito mais do que uma mão cheia de nomes capazes de fazer manchetes”. “Se não consegue adquirir obras de artistas de topo, não assuma que não existe nada para si”, sugere o especialista da Christie’s, antes de acrescentar: “É necessário explorar novos artistas ou talvez nomes menos consagrados. Se um trabalho original de um artista de topo está fora das possibilidades, talvez uma edição limitada desse mesmo autor possa ser uma opção acessível. A Christie’s oferece obras de artistas nesta categoria através de um espectro de preços.”
Em 2011, a China ultrapassou os Estados Unidos no que diz respeito ao mercado de leilões globais. Pequim tornou-se mesmo no segundo mercado de arte contemporânea – à frente de Hong Kong e só atrás de Nova Iorque.
Mais do que moda
O “hype” em torno das obras contemporâneas chinesas não será passageiro, acreditam os especialistas. Por isso, defendem que a procura deve manter-se alta nos próximos.
“A arte contemporânea é a lente através da qual podemos compreender o mundo que nos envolve e estabelecer uma ligação a ele. Além disso, pode oferecer visões sobre o passado, de onde viemos. Isto, simplesmente, é algo que nunca vai mudar”, expõe Eric Chang da Christie’s. Jonathan Wong da Sotheby’s complementa: “Não é somente uma marca porque a arte contemporânea chinesa é parte da cultura da China. Começou nos finais de 1970 e continua a surpreender o mundo nos dias de hoje.”
Mesmo com estes argumentos, algumas questões persistem. Por exemplo, como podemos iniciar uma colecção de arte privada? Em primeiro lugar, é necessário perceber que a competição é grande e abarca coleccionadores de todo o mundo que marcam presença nos leilões mais importantes. A Christie’s adianta mesmo que os clientes de arte contemporânea chinesa são oriundos de variadas paragens, desde o Continente até ao sudeste asiático, à Europa ou aos Estados Unidos.
“É um grupo internacional de coleccionadores que aumenta a cada ano”, esclarece Eric Chang.
Outra das preocupações de quem dá os primeiros passos de coleccionador passa pela escolha do tipo de arte a adquirir. Pintura a óleo ou escultura são dois exemplos muito populares no mercado, tendo preços bastante diferenciados.
Posto isto, fica a faltar a “regra de ouro”: jamais comprar uma peça de que não se goste digam o que disserem. “Encorajamos as pessoas a adquirir aquilo que gostariam de ver nas suas paredes”, aponta Chang.
O conhecimento do mercado também é um factor importante para quem se move no meio. “As pessoas têm de se expor ao mundo da arte. Devem ir a museus, galerias e – o mais importante – perceber a história da arte contemporânea chinesa”, realça Wong.
O trabalho de casa é, por isso, decisivo na hora de avançar para qualquer investimento financeiro. Isto sem esquecer a qualidade, condição, raridade e proveniência de todas as obras de arte.
“A quantidade de informação online e disponível através dos especialistas da Christie’s deve ser aproveitada, tal como a ida a leilões, galerias e museus, de forma a que as pessoas fiquem familiarizadas com os artistas e géneros”, conclui Eric Chang.
Hong Kong, com certeza!
Jonathan Wong não tem dúvidas de que a antiga colónia britânica continua a ser “o centro do comércio de arte na Ásia”. A constatação justifica-se pelo encontro de “um conjunto ecléctico de coleccionadores” na cidade.
As vantagens de Hong Kong não ficam por aqui e outra explicação é explanada por Eric Chang. O estatuto de zona franca oferece inúmeros benefícios nas transacções internacionais, incluindo ausência de taxas nas importações e exportações, sigilo bancário e regulamentos mais liberais do que Xangai e Pequim. A localização faz também do território uma plataforma para toda a região do sudeste do Pacífico e é porta de entrada para coleccionadores australianos, coreanos, taiwaneses e japoneses.
“Não há um lugar como Hong Kong”, sintetiza Chang.
Em Março, a Sotheby’s organizou o evento anual “Spring Sale for Contemporary Asian Art”. Mesmo sem vender todos os lotes, os resultados foram promissores e uma tela a óleo de Zhang Xiaogang (“Bloodline – Big Family: Family No. 2”) foi vendida por cerca de 52 milhões de dólares de Hong Kong.
Já este mês, mais propriamente no dia 26, será a Christie’s a dar a oportunidade de os coleccionadores de arte contemporânea chinesa fecharem novos negócios. Uma das obras em destaque no leilão, que terá lugar no Centro de Convenções e Exposições de Hong Kong, é assinada por Zheng Fanzhi . “Fly” (tela a óleo) tem um valor estimado de 20-30 milhões de dólares de Hong Kong.
A maior colecção privada do mundo
Uli Sigg pode ser um nome completamente desconhecido do grande público, mas os artistas e coleccionadores de arte conhecem-no bem. Natural da Suíça, Sigg ocupou o cargo de embaixador na China entre 1995 e 1998. Hoje, a sua colecção privada de arte contemporânea chinesa é a maior no mundo.
Recentemente, em entrevista ao The Korea Times, o suíço confirmou que tem mais de 2100 trabalhos da autoria de 250 artistas. Nomes como Yu Minjun, Ai Weiwei e Zhang Huan constam da sua colecção.
Na hora de preparar exposições com artistas chineses, muitos museus pensam automaticamente em Uli Sigg que se mostra sempre disponível para colaborar, cedendo peças da sua colecção. Segundo o próprio, a compra de arte não é uma forma que arranjou para fazer dinheiro. É, sim, a maneira ideal de captar a cena de arte contemporânea como um historiador.
Onde estão as mulheres?
Grande parte das listas são redutoras, mas podem revelar pequenos detalhes. Um desses casos está ligado à arte contemporânea chinesa que parece dominada por artistas masculinos. Verdade ou mentira?
“Há um número de artistas femininas bastante interessantes e é nosso hábito incluir alguns nomes nas nossas vendas em Hong Kong”, ressalva Eric Chang da leiloeira Christie’s, enumerando Cui Xiuwen, Lalan, Lin Tianmiao, Qin Ai e Yu Hong.
Jonathan Wong, especialista de arte contemporânea asiática na Sotheby’s, confirma que “apesar de a maioria dos artistas contemporâneos chineses serem homens, há cada vez mais mulheres no mercado de arte”. Sem indicar nomes, o especialista enfatiza apenas que “o sucesso de cada artista e o valor individual dos trabalhos depende somente da qualidade e não do género”.