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abril 26, 2012
Os altos e baixos da arte contemporânea no RS por Sérgio Lagranha, Jornal Já
Os altos e baixos da arte contemporânea no RS
Matéria de Sérgio Lagranha originalmente publicada no caderno de Cultura do Jornal Já em 24 de abril de 2012.
Em uma tarde de sábado chuvosa em Porto Alegre, aconteceu no Santander Cultural o painel A Perspectiva da Curadoria, que marcou o último final de semana da mostra O Triunfo do Contemporâneo – 20 anos de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul. Gaudêncio Fidelis, curador da mostra, fundador e primeiro diretor do MAC-RS, disseque o museu passou por uma série de dificuldades, altos e baixos, polêmicas, mas no final o projeto de valorização da arte contemporânea triunfou no Rio Grande do Sul. A exposição no Santander Cultural mostrou a qualidade do acervo do MAC-RS ao reunir 150 obras de 64artistas da coleção do museu.
Criado em 1992, o MAC-RS jamais teve enquanto instituição, uma sede própria. Os mesmos problemas crônicos que afligem a instituição persistiram durante anos e ainda reverberam pelos andares da Casa de Cultura Mário Quintana, local onde dispõe as suas instalações atualmente, comentaram Alexandre Nicolodi e Denis Nicola na revista Panorama Crítico, quando, em junho de 2011, entrevistaram o diretor do MAC-RS, André Venzon, que assumiu na Administração Tarso Genro.
Venzon descreveu as dificuldades que enfrentou no primeiro ano de gestão. “Eu acho que a situação mais difícil mesmo foi encontrar o acervo lá na Galeria Sotero Cosme. Todas as obras lá, com exceção dos papéis estavam numa sala no corredor, sala que agora foi transformada num Núcleo de Documentação e Pesquisa. Então nós fizemos um levantamento deste acervo, num total de 228 obras. Na gestão do Paulo Gomes,quando foi feito um último levantamento, eram num total de 99 obras. Ou seja, ouve um crescimento em 10 anos de mais de 100 obras. Só que de resto, a maioria das obras tem uma listagem, não tem um tombamento. À maioria destas obras não foi dada entrada como patrimônio do Estado com termos de doação reconhecidos pela Secretaria...”.
Em um artigo de dezembro de 2011, Venzon desabafava: “Nos quatro anos que antecederam a atual gestão, o museu resistiu anonimamente, com seu acervo depositado numa sala do sexto andar da Casa de Cultura Mario Quintana, sem direção e pronto ao esquecimento. Todavia não houve uma grande manifestação pública ou crítica, a respeito desse patrimônio, durante o período de deserto cultural que assolou a instituição.”.
Ele respondia ao artigo da historiadora de arte, professora do Instituto de Artes da UFRGS e diretora do MAC entre 1999 e 2002, Bianca Knaak, publicado no Caderno de Cultura do jornal Zero Hora em 18 de dezembro de 2011. No artigo, ela afirmava que precisamos nos convencer de que, na prática, o MAC é uma intenção de museu. “Há anos não consegue extrapolar as exposições temporárias e cedo abandonou o rigor quanto aos demais compromissos de um museu, como ampliação e conservação do acervo, serviço educativo etc. De pouca visibilidade, sem planejamento curatorial efetivo, o MAC falha na salvaguarda do seu patrimônio, não estimula a produção artística nem o colecionismo e sequer funciona como indicador para o fomento de um mercado regional. Apesar de muito desejado, é provável que esse museu tenha nascido prematuro, pois, além de uma sede apropriada, até hoje lhe falta uma política cultural a orientar e amparar enquanto bem público.”
No final do artigo-resposta, Venzon disse que o atual governo está cada vez mais consciente de que, para ser contemporâneo, tem de se investir mais. “As últimas notícias sobre o aumento do orçamento, patrocínios e prêmios desenham uma perspectiva inédita para a cultura no Estado, e o MAC encaminhou seu planejamento para participar desse crescimento. Estamos seguros de que a atual gestão do museu olha para o futuro, sem perder de vista o passado. Suas exposições são provas de que um museu público de arte contemporânea, assim como aqueles que efetivamente participam de sua vida institucional, deve garantir o direito à reflexão da arte do seu tempo.”
No painel do último sábado, 21, ao lado de Venzon, Bianca Knaak afirmou que o museu surgiu 20 anos atrás a partir de uma ideia louca que se mostrou pertinente, mas infelizmente ainda precisa comemorar seu aniversário na casa do vizinho, Santander Cultural.