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abril 19, 2012
Em dose dupla por Nina Gazire, Istoé
Em dose dupla
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na seção de artes visuais da istoé em 13 de abril de 2012.
ANTONIO MALTA E ERIKA VERZUTTI/ Centro Cultural São Paulo, SP/ Até 20/5
Duas gerações de artistas se encontram em mostra no Centro Cultural São Paulo. Erika Verzutti, 41 anos, possui uma produção eclética – que vai do desenho à escultura – a qual frequentemente incorpora os acidentes de percurso ao processo criativo. Já Antonio Malta, 51, participou durante a década de 1980 do ateliê Casa 7, grupo de artistas que possuía enorme influência da pintura figurativa do canadense Philip Guston e do neoexpressionismo alemão. Embora não evidentemente próximas, as obras de Erika e Malta se relacionam no espaço, em diálogo promovido pelo curador José Augusto Ribeiro.
Segundo Ribeiro, a característica que pode ser percebida nos trabalhos de ambos é o modo como “internalizam, processam e colocam entre parênteses a iconografia de artistas, movimentos e estilos”. E aqui a referência à história da arte não quer dizer reverência. “A minha formação em arte não é acadêmica e por isso acabo interpretando-a de maneira pessoal. Acho que isso é o que tenho em comum com Antonio Malta”, diz Erika Verzutti, cuja exposição funciona como uma espécie de retrospectiva, com trabalhos produzidos desde 2003.
Se, isoladamente, os artistas possuem uma produção de fôlego – ambos são extremamente prolíficos e o resultado disso é a presença de 50 obras no espaço expositivo –, o trunfo maior da mostra talvez esteja no projeto curatorial. “Acho que foi uma ideia super-radical por parte da curadoria. O que acontece aqui é que se passa a olhar para os trabalhos em si e não para os artistas”, elogia Erika, cujas esculturas muitas vezes fazem uso de materiais tradicionais como bronze e argila. Já os trabalhos de Malta são pinturas e colagens de predominância figurativa e geométrica, que acabam por remeter às esculturas da outra artista por deixar transparecer uma espécie de “desleixo intencional” na deformidade de suas figuras. Ao fim, o que se percebe é que essa amálgama de estilos e influências de cada um se funde a ponto de não se saber mais a quem pertencem os trabalhos, apesar de os circuitos de exibição e a formação dos dois artistas serem completamente diferentes.