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abril 16, 2012
Salão sustentável por Mônica Lucas, O Povo
Salão sustentável
Matéria de Mônica Lucas originalmente publicada no caderno Vida e Arte do jornal O Povo em 16 de abril de 2012.
O 63º Salão de Abril vai de amanhã ao dia 30 com o tema "A cidade e suas desconexões antrópicas"
Sustentabilidade, atualmente uma palavra muito usada, de significado pouco conhecido, mas já bastante discutido no meio artístico. É ela que norteia boa parte da programação da 63ª edição do Salão de Abril, que começa amanhã. Com o tema "A cidade e suas desconexões antrópicas", o evento propõe uma reflexão sobre as ações do homem no meio ambiente através do seu fazer político, ético, econômico e cultural.
Maíra Ortins, coordenadora de Artes Visuais da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) e coordenadora geral do Salão de Abril, pontua que a discussão já levantada entre filósofos, intelectuais e artistas precisa chegar à sociedade. "A colocação do homem como centro das coisas é um pensamento ultrapassado. Vivemos em ecossistema, e a arte já vem abordando isso há muito tempo", diz.
Para a Mostra Contemporânea de Artes Visuais, aberta para visitação pública gratuita a partir de amanhã, foram selecionados 30 artistas de oito estados brasileiros. O tema não limita ou direciona a participação deles, mas acaba aparecendo em vários dos trabalhos, já que é um assunto em evidência nos últimos anos. Segundo Maíra, "a arte vem cuidando disso além das preocupações estéticas, levantando questionamentos sociais e políticos".
Assim, surgem trabalhos como o do pernambucano Aslan Cabral, cuja performance irônica ao lamber uma televisão de plasma é uma crítica ao consumismo desenfreado e às informações não digeridas pela sociedade. Ou ainda as obras de Lucíola Feijó em desenho e isopor, que recriam ecossistemas das cidades e do campo. Várias obras selecionadas abordam temáticas como solidão, violência e outras debilidades estruturais da nossa sociedade.
Há uma preocupação da curadoria do Salão de Abril em não interferir no processo de produção de cada artista, preferindo "garimpar" as obras entre trabalhos e pesquisas que já estejam em desenvolvimento. Deste modo, a mostra revela as transformações no circuito nacional de arte contemporânea. A curadoria é do fotógrafo Silas de Paula e dos artistas visuais Marcelo Campos e Eduardo Frota. Entre as tendências verificadas pela organização do Salão de Abril estão a hibridação de linguagens e a retomada de manifestações como a pintura em tela e a escultura, após anos de pouca expressividade. Elas aparecem reinventadas, com talhes que vão além do convencional. As esculturas do paulista Rodrigo Sassi, por exemplo, lidam com estruturas abstratas e volumosas próximas da instalação.
A seleção de obras mostra também um mapa mais descentralizado da produção artística. Antes a maioria das obras vinha de São Paulo e Rio de Janeiro e se juntavam aos trabalhos locais. Esta edição recebeu 510 inscrições de todo o país e contemplou várias regiões, trazendo também artistas de Minas Gerais, Pernambuco, Paraíba, Goiás e Paraná. Cada um deles recebe R$ 2,5 mil. Além disso, são concedidas duas bolsas para residência no valor de R$ 12 mil, cada.
Dos 30 artistas escolhidos, cinco são cearenses. Além de Lucíola Feijó com suas esculturas, participam da mostra Celso Oliveira, Karol Luan e Júlio Lira, com trabalhos fotográficos, e Robézio Marqs, do Grupo Acidum, com intervenção.
Programação pela cidade
A programação do Salão de Abril espalha-se pela cidade, com a presença de obras de arte sob a forma de intervenções urbanas em ruas do Centro da cidade, no Passeio Público, no calçadão da Praia de Iracema, no Espaço Cultural dos Correios e no Atelier CasaIntervenção. "Não nos interessa ter o Salão em um espaço isolado, num cubo branco", destaca Maíra Ortins. Para ela, ao ocupar outros lugares, o público é instigado a pensar o espaço e a cidade.
A exposição "Gente en El Medio", da espanhola Maribel Longueiro, será aberta no dia 23 de abril, no Espaço Cultural dos Correios. Ela traz retratos de pessoas que se confundem com a paisagem, sobrepondo imagens através de recortes e manipulação fotográfica. Já o projeto Atelier Aberto apresentará duas atividades, uma no espaço do "Dança no Andar de Cima" e outra no ateliê "CasaIntervenção".
O tema "A cidade e suas desconexões antrópicas" volta à discussão em seminário, que será aberto no dia 23 de abril, no Espaço Cultural dos Correios, reunindo artistas, pensadores e pesquisadores com o intuito de pensar e discutir políticas culturais para as cidades. Nos três dias seguintes, o seminário será realizado na Vila das Artes, com o artista plástico Eduardo Frota, o fotógrafo Silas de Paula, Beatriz Lemos e os artistas espanhóis Maribel Longueiro e Felix Bentz.
Homenagem
Este ano, o Salão presta uma homenagem à artista plástica cearense Heloísa Juaçaba, que ganha um espaço exclusivo na Galeria Antônio Bandeira para a exposição de obras de diversas fases de sua carreira. Maíra Ortins explica que "é um agradecimento a tudo o que Heloísa fez na promoção das artes no Ceará. Ela era generosa, nos apresentou o trabalho do Siegbert Franklin, atuou como mecenas e é muito difícil de encontrar no estado quem financie as artes".
Natural de Guaramiranga, Heloísa iniciou sua carreira artística nos anos 50, na extinta Sociedade Cearense de Artes Plásticas (Scap). Expôs pela primeira vez no Salão dos Novos e foi premiada no Salão de Abril, Unifor Plástica e Mulher Maio Mulher. Assumiu funções como diretora do Departamento da Cultura da Prefeitura de Fortaleza e da Casa de Cultura Raimundo Cela, além de coordenadora no Ceará do Sistema Nacional de Museus. Atuava em várias frentes, como pintora, escultora, tapeceira, desenhista e gravadora.
Três ações fazem parte da homenagem a Heloísa Juaçaba. Além da exposição da sua série de brancos (trabalhos modernistas e minimalistas com punhos de rede), na Galeria Antônio Bandeira, será feita a restauração do acervo da Pinacoteca do Município de Fortaleza, cujo projeto teve Heloísa como pioneira. Também será lançado em junho, no final da exposição e da Mostra Contemporânea, um livro sobre Heloísa abordando sua trajetória como artista, gestora pública e mecenas na cidade de Fortaleza.
Mais Informações
63º Salão de Abril. Abertura oficial, amanhã, às 19h30, na Galeria Antonio Bandeira, localizada no Centro de Referência do Professor (Rua Conde D´Eu, 560, Centro). A mostra segue até 30 de abril. Gratuito.
Programação
17/04
Coquetel de abertura, 19h, na Galeria Antônio Bandeira
"Lugar", intervenção de Lucas Costa, a partir de 9h, o dia todo no Centro de Referência do Professor
"Shnnnnn!!! e outros sons", intervenção de Robézio Marqs, 11h, nas ruas do Centro da Cidade
18/04
"Caminho (lambe)", intervenção de Vanessa Almeida, 9h, no Centro de Referência do Professor
"Plasma", performance de Aslan Cabral, 10 h, no Passeio Público
"Invasão", intervenção de Chico Santos, 14h, no Passeio Público, e 16h, na Praia de Iracema
23/04
Abertura do seminário "A Cidade e suas desconexões antrópicas" e vernissage da exposição "Gente en el Medio", de Maribel Longueiro, 18h, no Espaço Cultural dos Correios de Fortaleza
24/04
Seminário "A Cidade e suas desconexões antrópicas", sobre o Salão de Abril, com Eduardo Frota e Silas de Paula, 18h, na Vila das Artes
25/04
Seminário "A Cidade e suas desconexões antrópicas", sobre o projeto de intercâmbio Lastro e a exposição Gente en El Medio, com Beatriz Lemos e Maribel Longueiro, 18h, na Vila das Artes
26/04
Seminário "A Cidade e suas desconexões antrópicas", sobre a arte produzida na América Latina e o trabalho como curador, com Silas de Paula e Felix Bentz, 18h, na Vila das Artes
27/04
"Dança no Andar de Cima", com Beatriz Lemos, Félix Bentz e Maribel Longueiro, sobre o que acontece no mundo da arte, às 19h, no Dança no Andar de Cima
28/04
"CasaIntervenção", com Maribel Longueiro e Cláudia Sampaio, sobre suas obras, com espaço para obras de outros artistas. Às 14h, no Atelier CasaIntervenção
Endereços:
Galeria Antônio Bandeira: Rua Conde D´Eu, 560 - Centro
Espaço Cultural dos Correios: Rua Senador Alencar, 38 - Centro
Dança no Andar De Cima: Rua Desembargador Leite Albuquerque, 1523A - Aldeota
CasaIntervenção: Rua Oliveira Viana, 158 - Vicente Pizon
Vila das Artes: Rua 24 de Maio,
1221 - Centro