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abril 12, 2012
Último gigante da Op Art, Cruz-Diez expõe no Brasil por Antonio Gonçalves Filho, O Estado de S. Paulo
Último gigante da Op Art, Cruz-Diez expõe no Brasil
Matéria de Antonio Gonçalves Filho originalmente publicada no caderno de Cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 12 de abril de 2012.
O papel da cor no espaço e na pintura é o centro da pesquisa do venezuelano desde os anos 50
A atividade do venezuelano Cruz-Diez, que completa 89 anos em agosto, não está circunscrita ao campo do ilusionismo pictórico, mas seu nome é invariavelmente associado a movimentos como a arte cinética e a op art, do qual é o último gigante - e, desde que foi cunhado o termo, em 1964, já passaram pelo planeta o alemão Josef Albers (1888-1976), o venezuelano Jesús Rafael Soto (1923-2005) e o húngaro Victor Vasarely (1906-1977), três representantes exponenciais do grupo. Bem-humorado, o artista, que inaugura hoje uma exposição na Galeria Raquel Arnaud, brinca com as classificações, lembrando, em entrevista por telefone, de Miami, que mesmo antes do advento da optical art (ou op art), ela já existia - e ele não se refere à "zebra" de Vasarely, feita em 1938, nem aos painéis que o artista e sociólogo escocês John McHale assinou em 1956. "Os impressionistas foram os primeiros a associar o ilusionismo cromático à instabilidade da luz", observa Cruz-Diez.
Cruz-Diez, como muitos outros artistas associados à op art, não gosta do termo, limitador por sugerir que esse tipo de arte cria truques visuais equivalentes ao antigo trompe l'oeil. Sua arte, diz, é a da percepção das cores. Tanto que as fisiocromias expostas na mostra constituem o exemplo mais radical dessa pedagogia, que leva o visitante em movimento a criar um espectro de cores inexistente no suporte. A citação à herança neoimpressionista explica melhor o título da exposição do venezuelano em São Paulo, Circunstâncias e Ambiguidades da Cor, que traz obras inéditas como as "duchas" de indução cromática, boxes circulares com tiras de plástico rígido onde o espectador pode entrar e tomar um banho de cores. Elas foram concebidas originalmente em 1968, diz ele, em plena ebulição da op art, quando a inglesa Bridget Riley tornou-se a primeira mulher a ser premiada na Bienal de Veneza com telas em que a cor reinava absoluta.
Se as "duchas" dominam o andar térreo da galeria, no piso superior o artista apresenta o que denomina de "obra efêmera". Produzida especialmente para a galeria, ela tem quatro metros de largura e é, na verdade, uma versão das faixas de pedestres que ele apresentou há três anos como um novo suporte, no Museum of Fine Arts de Houston, Texas. Essas "crosswalks" subvertem a função das faixas de pedestres convencionais, neutralizando seu aspecto utilitário. Cruz-Diez, divertindo-se, chama essa "poética espacial" de uma ferramenta visual contra a ordem, que ajuda o espectador a refletir sobre o papel da cor no espaço, envolvendo-o numa experiência cromática que ele já aplicou em diversos prédios públicos ao redor do mundo.
A mais recente interação de Cruz-Diez com a arquitetura é uma obra monumental, inaugurada no último dia 4. O estádio de beisebol Miami Marlins ganhou uma "indução cromática" do artista que toma todo o jardim que circunda o prédio, construído numa área de 1.672 metros quadrados. Por "indução cromática", ele entende o fenômeno da pós-imagem, ou da persistência dessa imagem na retina, que altera a percepção do ambiente. "É a primeira vez que faço um trabalho assim para um estádio", observa Cruz-Diez, que, entusiasmado como um menino, conta como suas duas exposições na China - a última encerrada em fevereiro, no Museu Ningbo - o levaram a refletir sobre os resultados positivos do transculturalismo.
"Os pintores chineses são muito influenciados pela arte ocidental", diz, traçando uma correspondência analógica com o desenvolvimento da música polifônica graças também a esse diálogo entre culturas e continentes . Ele mostrou na última exposição chinesa uma outra versão das "duchas", além de ambientes de cromossaturação (salas pintadas em três cores). Os chineses teriam uma percepção cromática diferente, como os esquimós, que conseguem diferenciar uma infinidade de brancos? "Não creio." E ele, teria uma cor favorita, como Albers , que considerava o verde a mais expansiva? "Não, porque não se pode ser fiel às cores, embora tenha uma relação afetiva com elas." Isso não impediu que ele projetasse uma máquina de pintar para que suas fisiocromias sejam perfeitas. "O mais importante não é o trabalho, mas o conceito, pois a obra é a expressão do pensamento", afirma Cruz-Diez, concluindo que a perfeição é uma meta a ser alcançada.