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abril 10, 2012
Do macro ao microcosmo por Paula Alzugaray, Istoé
Do macro ao microcosmo
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção Artes Visuais da Istoé em 5 de abril de 2012.
O alemão Wolfgang Tillmans, do primeiro time da fotografia mundial, monta em São Paulo sua primeira individual na América Latina
Com um olho no céu e o outro na terra, Wolfgang Tillmans construiu, em 20 anos de trabalho, uma linguagem própria que é por muitos associada à ideia da constelação. Essa associação ocorre não apenas pelo fato de a observação das estrelas e dos planetas – que ele pratica desde criança – estar na origem de seu trabalho fotográfico. Mas também pelo modo absolutamente original com que sua fotografia é exposta: em grupos irregulares de imagens de dimensões variadas que, nas paredes das galerias e dos museus, lembram o desenho de corpos celestes conectados por forças invisíveis. Até 27 de maio as constelações de Tillmans orbitam o MAM-SP, na primeira exposição individual que o artista alemão realiza na América Latina.
Um olho no céu estrelado e o outro em um rato entrando em um bueiro. Uma poderosa catarata em grandes dimensões ao lado de uma pequena vista aérea noturna, tirada da janela do avião. Tillmans é um artista viajante que, nos voos transcontinentais, passa as noites em claro, fotografando o céu e a terra. Suas constelações de imagens aproximam universos tão dispersos como um casal vestindo coturnos; os escombros de barcos na praia; um jardim florido; um detalhe de corte de cabelo. São grandes exteriores confrontados a interiores intimistas. São situações de caos que se aproximam de contextos de ordem.
No trabalho de Tillmans, uma imagem não existe em isolamento, mas sempre em relação a outras, ligada por leis indecifráveis. As paredes da exposição são como as páginas de uma revista. Ao montar sua exposição, tarefa que sempre executa pessoalmente, o artista se comporta como um editor de imagens, construindo discursos sem linearidade e encobrindo os nexos que o levam a relacionar as fotografias. Com essa linguagem, em que “tudo é assunto em potencial” e que às vezes assume o aspecto de uma enciclopédia non sense, Tillmans circula pelos universos paralelos da arte e da imprensa. Com ela, ganhou o Turner Prize em 2000 – o maior prêmio de artes plásticas da Grã-Bretanha – e com ela colabora em revistas como “I-D”, “Dazed & Confused” e “Wallpaper”.