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março 20, 2012

Território ocupado pela arte por Dalviane Pires, Diário do Nordeste

Território ocupado pela arte

Matéria de Dalviane Pires originalmente publicada no Caderno 3 do Jornal Diário do Nordeste em 20 de março de 2012

O projeto Perpendicular reúne vários artistas de Fortaleza e Belo Horizonte no pensar da cidade

O espaço é de experimentação e o ponto de encontro é a própria cidade. Ou "cidades", aquelas - em um sentido amplo - que moram no imaginário/trabalho de cada artista. De hoje até 25 de março, Fortaleza recebe o projeto "Perpendicular Fortaleza", criado pelo artista visual, pesquisador de arte e performer mineiro, Wagner Rossi Campos.

O projeto convida outros cinco artistas, sendo três locais - Yuri Firmeza, Uirá dos Reis e Sabyne Cavalcanti - e mais dois de Belo Horizonte - Fernando Ancil e Raquel Versieux -, para, nos próximos dias, trocarem experiências artísticas por meio de reflexões sobre a cidade.

O projeto, que foi selecionado pelo Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais - 8ª edição, propõe vários diálogos estéticos e éticos entre os espaços, contribuindo para uma reflexão sobre território, espaços de circulação, convívios urbanos e centros difusores de arte e cultura.

Parte da programação que é aberta ao público acontecerá no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB), a partir de amanhã, 21. Outra parte deve acontecer nas ruas mesmo, de acordo com os resultados da residência desses artistas.

Wagner Rossi explica que o projeto parte do desenvolvimento de trabalhos individuais dos artistas convidados e que não existem regras, sendo interessante acompanhar o andamento dos encontros pelo blog http://www.perpendicular-fortaleza.blogspot.com.

"Encontro experimental é processual, não tem definição prévia muito rígida. É uma ocupação de território. É um projeto que cria um encontro inesperado e novo entre esses artistas, o que não poderia acontecer se não fosse ´perpendicular´", diz justificando o nome do projeto.

As cidades de lá

Perpendicular já foi realizado em outras cidades. No exterior, passou por Berlim, na Alemanha, e por Bilbao, na Espanha. No Brasil, Rio de Janeiro, Maceió e Belo Horizonte, nesta última com duas edições: "Perpendicular cenário # ambiente" e "Perpendicular Casa e Rua", que também contou com a participação de artistas do Ceará.

"Wagner havia me convidado para o Perpendicular em BH, juntamente com Solon Ribeiro e Artur Ribeiro, de São Paulo. Construímos uma casa com tijolos feitos de pão. Não cheguei a ir, pois tinha outro compromisso, mas Solon e Artur participaram", conta o artista Yuri Firmeza, que já morou em Belo Horizonte e que foi parceiro de Wagner Rossi na escolha dos artistas locais convidados. Foi o próprio Yuri quem indicou Uirá dos Reis e Sabyne Cavalcanti, por serem artistas com um trabalho voltado para as problemáticas da cidade onde produzem.

"Logo pensei em trabalhos que me instigam. Uirá escreve muitos poemas que transpassam uma relação com Fortaleza. Ele mora em Messejana, então é uma outra Fortaleza. Além da vertente poética, Uirá mescla outras linguagens, produzindo paisagens sonoras e também como realizador em cinema", diz Yuri.

Da obra de Sabyne, Yuri destaca a relação com questões ligadas à natureza sem um teor assistencialista ou panfletário. "Sabyne atua na interseção entre o natural e o artificial, corpo e natureza, cidade e natureza. Ela não pensa essas questões de maneira óbvia". O "Perpendicular Fortaleza" vai esticar até a comunidade de Moita Redonda, em Cascavel, onde Sabyne desenvolve um interessante trabalho envolvendo os moradores e a arte secular do artesanato feito de barro.

As trocas

Apesar de terem em comum uma arte que dialoga com a cidade, os artistas que produzem no Ceará ainda não conheciam os artistas mineiros. Trocaram portfólios, alguns links e e-mails, mas a contaminação pela arte de cada um vai acontecer durante o Perpendicular.

Hoje os artistas vão circular pelas "fortalezas" de cada um. Ao contrário do que se poderia imaginar, os artistas locais não necessariamente apresentarão a cidade aos visitantes. A ideia é que o inverso aconteça.

"Tudo vai depender da Fortaleza que eles desejam encontrar. Desde questões que perpassam o imaginário do que seja Fortaleza, já que alguns sabem da especulação imobiliária, do turismo sexual avassalador, do coronelismo. Eles também irão apresentar Fortaleza pra gente. Em algum momento as lentes vão se misturar", destaca Yuri Firmeza.

A artista mineira Raquel Versieux, que está pela primeira vez no Ceará, conta que a cidade já é uma primeira instância de troca. "Vamos ficar também numa casa no povoado de Moita Redonda, onde se produz muito artesanato com barro e estou bem interessada no deslocamento entre esse lugar e a Capital. O descolamento é pra mim matéria-prima de trabalho e certamente os pontos de origem vão ser considerados, desde minha saída de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, e agora do Rio para Fortaleza, já vou levando um pouco de minério com iodo", diz a artista.

Mais informações:

Perpendicular Fortaleza - de 20 a 25 de março, com atividades abertas ao público, no Centro Cultural Banco do Nordeste (Rua Floriano Peixoto, 491, Centro). O projeto prevê intervenções urbanas pela Capital. Blog: http://www.perpendicular-fortaleza.blogspot.com

Programação

Hoje

Apresentação do projeto Perpendicular Fortaleza, dos artistas, do local de trabalho, o CCBNB.

Passeio por Fortaleza para estabelecer possíveis territórios de ação.

Amanhã

Construção coletiva de uma agenda de apresentações e performances.

Dia 22 - quinta-feira

Performances e ações na cidade de Fortaleza. À tarde, conversas, apresentação de ideias, construção de instalações e processos criativos que dialoguem com o espaço físico disponibilizado. À noite haverá uma apresentação do projeto ao público, lançamento dos livros Perpendicular cenário # ambiente e Perpendicular Casa e Rua, mesa de conversa.

Dia 23 - sexta-feira

Performances, ações e intervenções urbanas em algum espaço aberto da cidade.

Dia 24 - sábado

Visita ao povoado Moita Redonda, em Cascavel. Noite_ Livre

Dia 25 - domingo

Encerramento das atividades junto aos moradores do povoado Moita Redonda.

Posted by Guilherme Nicolau at 11:22 AM