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março 12, 2012
Projeto Rumos mostra arte comportada e convencional por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Projeto Rumos mostra arte comportada e convencional
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 10 de fevereiro de 2012.
Programa, que antes mapeava circuito, hoje parece salão de belas artes
A cada edição do Rumos Artes Visuais, realizado de três em três anos no Itaú Cultural, a jovem arte contemporânea brasileira parece mais comportada e convencional.
Já havia sido assim, em 2009, mas a mostra com os 45 artistas selecionados para esta edição é tão inodora quanto uma feira de arte.
Desde 1999, o Rumos tem realizado um mapeamento nacional da produção em artes plásticas.
O projeto surgiu num momento em que o circuito brasileiro de exposições, tanto em galerias comerciais como em instituições públicas, era bastante frágil e não conseguia abarcar a crescente produção. Desde o início, o Rumos Artes Visuais funciona por edital, ou seja, os artistas precisam apresentar seus portfólios à instituição, para então entrarem num processo de seleção.
Talvez aí esteja o problema do atual momento: com um circuito robusto, o programa não é mais um dos poucos espaços de inserção nesse universo. Assim, em vez de mapeamento nacional, mesmo com 1.770 inscritos, de acordo com o Itaú, o programa está mais próximo de um salão de belas artes.
Ao menos é isso o que se constata com a seleção da curadoria de 12 profissionais chefiados por Agnaldo Farias.
"Convite à viagem", aliás, é uma exposição com tema repetitivo: o Panorama da Arte Brasileira, realizado no ano passado, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, partiu da mesma questão e apresentou trabalhos mais fortes.
ARTE DOMESTICADA
É até difícil saber se, na mostra em cartaz no Itaú Cultural, os artistas utilizam formatos prontos para consumo ou a seleção e sua disposição os igualaram nesse padrão.
Artistas como Carlos Contente ou Adriano Costa, conhecidos por obras experimentais, por exemplo, participam da exposição de forma tão domesticada que perderam sua radicalidade.
Dessa forma, cria-se um percurso agradável, que transforma as 126 obras da mostra em belos trabalhos, todos com discursos poéticos e um tanto vazios nas legendas escritas pelos curadores.
A questão que fica é se a arte brasileira é que está tão sem graça ou se é o pensamento dos curadores que anda preguiçoso.
Saiba mais sobre a exposição na agenda de eventos.
Infelizmente não pude nem poderei ver a mostra do Rumos 2012 [por estar residindo fora do país].
Mesmo assim, creio que a questão levantada pelo Cypriano pode até proceder; vejo os pontos que levanta e em princípio me identifico com essa inquietação.
Por outro lado, salvo engano é a terceira vez em que o vejo reagir à mostra do Rumos nesses termos [inclusive usou bordão quase idêntico para outra edição, se bem me lembro], o que me faz pensar se não haveria, para além de certa domesticação dos trabalhos, um conflito de expectativas entre o que o jornalista gostaria que o Rumos fosse e as premissas da instituição que patrocina o evento...talvez.