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fevereiro 29, 2012
Arqueologia social por Paula Alzugaray, Istoé
Arqueologia social
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 24 de fevereiro de 2012.
Passado e presente se unem e reforçam caráter alegórico da arte contemporânea indiana, em exposição, em São Paulo
ÍNDIA! – LADO A LADO/ Sesc Belenzinho, SP/ 25/2 a 29/4
Em um Centro Cultural Banco do Brasil, imerso sob a aura de um museu de arqueologia, a exposição “Índia!” apresenta a cultura milenar indiana, com peças que chegam a datar desde 200 a.C. Mas, no Sesc Belenzinho, que recebe, a partir de sábado 25, o segmento contemporâneo da exposição, dedicado à atual cena do país, a história da arte e da cultura indianas é virada de ponta-cabeça. A imagem que melhor representa essa ideia é a obra “Vishnu Vilas”, do artista Manjunath Kamath, em que um busto do deus protetor contra as calamidades é tombado sobre objetos que se esparramam pelo chão. “Vishnu é representado em uma postura de perdedor, vencido, destruído”, afirma a curadora brasileira Tereza Arruda. “A partir daí, abre-se um amplo leque de questionamentos referentes à tradição, história e cultura”, completa ela. Assim como Kamath, os 17 artistas da mostra “Índia! – Lado a Lado” produzem releituras da história – sempre confrontada à atualidade de um país que divide hoje com Brasil, China e Rússia, toda a atenção mundial.
Há diversas realidades confrontadas na exposição. Em “Sonhos de Habitação”, o fotógrafo Vivek Vilasini documenta os estilos híbridos que brotam do boom imobiliário de pequenos vilarejos. Já o PIX Collective, coletivo de jovens fotógrafos que compõem o corpo editorial de uma revista trimestral, apresenta um mosaico de visões sobre o contexto social indiano. Há ainda esculturas, pinturas, vídeos e instalações.
Na maioria dos casos, o recorte da curadora Tereza Arruda apresenta artistas contemporâneos que se comportam como arqueólogos do espaço social urbano.
Desses exercícios de arqueologia social, surgem alegorias de vários aspectos da sociedade indiana: da condição feminina à religiosidade, passando pela organização em castas e o passado colonial. Entre os trabalhos, há reflexões muito agudas, como a videoanimação “C for Cutter” (C de cortador), de Vishal K. Dar, que usa uma nota de 500 rúpias, com a imagem de Gandhi, para pensar a respeito da sobreposição de valores que se sucederam no último século. Nessa obra, o artista projeta sobre a imagem de Gandhi uma série de ícones relativos a um certo culto à violência, em contraposição aos ideais pacifistas divulgados pelo líder político.
Mas, entre a diversidade de expressões apresentadas na mostra, surgem, por vezes, alegorias menos complexas. Como a instalação “Colostro”, de Reena Kallat, que, em sua crítica ao recente passado colonial, produz um discurso demasiadamente literal. A instalação é composta por elementos suntuosos – como uma coroa, um espartilho e um sapato de salto alto (em alusão ao sapato de cristal da Cinderela, talvez?) –, justapostos a pinturas em vermelho que remetem a cenas de agressão.
Saiba mais sobre a exposição na agenda de eventos.