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fevereiro 28, 2012
Gerhard Richter faz 80 anos com três mostras por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Gerhard Richter faz 80 anos com três mostras
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 28 de fevereiro de 2012.
Em richter, a junção entre forma e conteúdo deve ser vista como uma das chaves de seu sucesso
A festa de aniversário dos 80 anos do artista alemão Gerhard Richter foi comemorada em grande estilo, dividindo-se em três espaços expositivos da capital alemã: a Nova Galeria Nacional e a Antiga Galeria Nacional (www.smb.museum), além do ME Collectors Room (www.me-berlin.com).
De todas essas mostras, inauguradas no último dia 12, a mais importante acontece na Nova Galeria, que recebe "Panorama", uma retrospectiva com 140 pinturas e cinco esculturas. A exposição já foi vista na Tate Modern, em Londres, e, depois de Berlim, segue em junho para o Centro Pompidou, de Paris.
Com praticamente todas as séries criadas em seus mais de 50 anos de carreira, a retrospectiva na grande sala projetada pelo arquiteto Mies van der Rohe (1886-1969) ajuda a entender por que Richter se tornou, hoje, uma unanimidade no mercado, entre críticos e entre artistas.
Suas obras transitam pelo primor da pintura, como se observa em "Betty", de 1988 -tela que inaugurou um estilo de produzir retratos simulando fotografias-, até trabalhos de arte conceitual, como "4 Glasscheiben" (4 painéis de vidro), de 1967.
Nesse último, o artista alinha quatro pedaços de vidro em distintos ângulos, fazendo com que eles reflitam seu entorno de forma distinta.
Pois é justamente essa preocupação com o contexto o que torna Richter tão particular. Suas obras, mesmo quando são abstratas, não estão falando apenas da pintura.
O exemplo mais conhecido dessa estratégia está exposto na Antiga Galeria Nacional, com a série de 15 pinturas chamada "Outubro 18, 1977", mais conhecida como a série do Baader-Meinhof (grupo terrorista alemão de esquerda criado nos anos 70).
Exposta no suntuoso edifício de 1876, monumento à fundação do império germânico, a série que retrata os terroristas mortos pelo Estado alemão tem ali reforçado o caráter denunciatório proposto pelo trabalho. Mas também é formalmente inovadora.
Em Richter, a junção entre forma e conteúdo deve ser vista como uma das chaves de seu sucesso.