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fevereiro 13, 2012
Tramando mundos por Mônica Lucas, Diário do Nordeste
Tramando mundos
Matéria de Mônica Lucas originalmente publicada no Caderno 3 do jornal Diário do Nordeste em 13 de fevereiro de 2012.
Mostra na Unifor revisa 30 anos de carreira de Luiz Hermano, artista plástico cearense radicado em SP
Brinquedos de plástico, contas de resina, pedaços de madeira, fios de arame. Objetos corriqueiros, que normalmente passam despercebidos aos nossos olhos e que teriam como destino algum lixão, se transformam em obras de arte nas mãos do artista plástico Luiz Hermano. Cerca de 30 anos de carreira desse cearense radicado em São Paulo ganham uma generosa revisão na mostra Tramando Mundos, em cartaz no Espaço Cultural Unifor Anexo.
Luiz Hermano expôs pouco em Fortaleza e se diz feliz com a possibilidade de apresentar seu trabalho no Estado onde nasceu. A mostra, aberta à visitação a partir de quarta-feira, reúne 28 de suas obras mais emblemáticas, entre aquarelas, esculturas e uma grande instalação. O fio condutor que as une é a reflexão que provocam sobre a formação de mundos e a matemática do universo. "Fizemos um recorte a partir da ideia das tramas, do ato de tramar para a construção de universos", explica Paula Braga, curadora da mostra.
O ponto central é a obra Encantados, de 2004, uma instalação feita em plástico, aço, lâmpadas e gazes, que remete às metamorfoses da natureza. Em torno dela, ficam dispostas doze aquarelas, feitas no início da carreira de Luiz Hermano, ainda na década de 80. "Elas retratam minha visão de histórias da humanidade", explica o artista, que pintou fábulas e cenas do imaginário infantil - ou seja, os universos construídos por meio das brincadeiras.
Ao redor dessa estrutura, obras mais relacionadas ao raciocínio matemático, com suas tramas intuitivas de metal. O artista propõe, porém, um movimento a essas estruturas, como nos cubos movediços de alumínio que iniciou nos anos 90. Completam a mostra, peças da recente série Rio das Contas, em que contas de resina, pedaços de madeira e capacitores eletrônicos são unidas e articuladas por fios de arame em belos emaranhados, relevos curiosos e movimentos iminentes.
Nas tramas que constroem universos reais e simbólicos, pelo menos, quatro fases do artista são representadas. Paula Braga explica que, em uma obra tão prolífera, optou por selecionar peças que trouxessem a ideia de trama e abordassem a construção de diferentes mundos. "A exposição não traz todas as fases, mas as peças mais instigantes que abordam essa questão".
Luiz Hermano se apropria de elementos de vários mundos para seu trabalho. Em suas visitas à Tailândia, Índia e China, encontrou estátuas de budas em construções milenares erguidas segundo a geometria sagrada e se encantou com mandalas que esquematizam o universo. O artista passeou também por ruas de comércio de quinquilharias de plástico, brinquedos piratas e computadores de procedência duvidosa. Ao tramar o sagrado com o profano, Luiz Hermano aborda a compreensão da origem e as possibilidades de conexão com o universo. Isso sem afastar-se do cotidiano, mas, pelo contrário, achando nele mesmo a transcendência. Enquanto faz suas obras, o artista medita, ao mesmo tempo em que sincroniza o movimento de suas mãos com a frequência de suas ondas cerebrais.
Paula Braga é só elogios ao artista: "Tem todo o conceito filosófico que permeia suas obras, mas há ao mesmo tempo uma ligação com o ornamento e com a beleza, que é uma preocupação que não vemos muito na arte contemporânea". A curadora lembra ainda que Hermano estabelece uma ponte entre o popular e o erudito, ao incorporar ao seu trabalho vários materiais cotidianos industrializados e o fazer artesanal.
Palestra
Para falar sobre sua trajetória e trabalho, Luiz Hermano ministra palestra hoje, no auditório A3 da Unifor, às 15h30, com a participação da curadora da exposição, Paula Braga. Luiz Hermano, agraciado com o Troféu Sereia de Ouro, em 2011, outorgado pelo Sistema Verdes Mares, expôs em vários museus ao redor do mundo e tem obras na Biblioteca Nacional de Paris e em coleções particulares como a de Patrícia Cisneiro, na Venezuela.
Nascido em 1954, Luiz Hermano viu despertar o interesse pelas artes plásticas ainda na infância, em Preaoca, pequeno povoado do município de Cascavel. "Eu estava sempre pintando, desenhando, copiando algum jornal ou revista", conta. Do interior do Ceará para a Capital e então para o mundo. O artista já morou em Londres, Paris, Nova York e não perde uma oportunidade de viajar e conhecer novos lugares e costumes.
Hermano, que sempre viveu de arte - "nunca fiz outra coisa na vida", diz - tem residência fixa em São Paulo há 30 anos. Foi na capital paulista que sua carreira deslanchou, em 1980, com a exposição coletiva Desenho Jovem, no Museu de Arte Contemporânea da USP (Universidade de São Paulo). No ano seguinte, estava com a individual Desenhos (Drawings), no Museu de Arte de São Paulo (Masp).
Nos últimos 30 anos, o artista teve seus trabalhos exibidos em várias outras das principais instituições de arte do Brasil: a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Instituto Tomie Ohtake, Centro Dragão do Mar, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, além de ter participado da Bienal de São Paulo entre 1987 e 1991. No exterior, expôs em Buenos Aires, Santiago, Washington, Paris, Madri e Berlim, e outras cidades da América Latina, Europa e Estados Unidos. Em 2008, quando realizou a exposição individual Tempo do Corpo, na Pinacoteca de São Paulo, lançou um livro sobre sua obra, com 256 páginas.
FIQUE POR DENTRO
Empreendedores serão tema de outra exposição
Na quarta-feira, o Espaço Cultural Unifor recebe outra exposição. Pioneiros & Empreendedores: A Saga do Desenvolvimento no Brasil é uma exposição que reflete as preocupações que embasaram mais de dez anos de pesquisas realizadas na Universidade de São Paulo, sob a coordenação do professor e pesquisador Jacques Marcovitch, referentes aos empreendedores que foram pioneiros em diferentes campos profissionais e influenciaram de forma decisiva a história do Brasil. A publicação de uma trilogia que aborda a trajetória de 24 empresários descortina um cenário que desvela rotas e percursos labirínticos e entrelaça os mais distintos empreendimentos, cujo legado é perceptível nos dias de hoje, apontando para uma pedagogia empreendedora, que articula trabalho, percepção de contexto, busca de inovação e aventura. Entre os empresários biografados, estão Roberto Medina, Francisco Matarazzo, Roberto Simonsen, José Ermírio de Moraes e o cearense Edson Queiroz.
Mais informações:
Tramando Mundos - Mostra individual do artista plástico Luiz Hermano. De 15 de fevereiro a 13 de maio de 2012, no Espaço Cultural Unifor Anexo. Entrada e estacionamento gratuitos. Palestra com Luiz Hermano e Paula Braga. Hoje, às 15h, no auditório A3.
Contato: (85) 3477.3319