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fevereiro 10, 2012
Cinco vezes América Latina por Paula Alzugaray, Istoé
Cinco vezes América Latina
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 2 de fevereiro de 2012.
PROJETO 5x5/ ULTRAMAR SUR/ COPA AMÉRICA: VIDEOARTE LATINO-AMERICANA CONTEMPORÂNEA/ Paço das Artes, SP/ até 1º/4
Há pelo menos três destinos especuláveis para os tesouros nazistas escondidos na Segunda Guerra Mundial. O Lago Töplitz, nos Alpes austríacos, o município de Deutschneudorf, na Alemanha, e uma série de tratores da marca Heinrich Lanz e submarinos U-Boot, enviados para a América Latina na época. O mito de que o “ouro nazista” teria sido escondido em peças automotivas levou o artista chileno Patrick Hamilton a uma pesquisa que culminou em três trabalhos. O “Proyecto Lanz” (2009), o “Proyecto U-Boot” (2010) e o vídeo “U-Boot” (2010) estão expostos hoje no Paço das Artes no “Projeto 5x5”, a primeira de uma série de cinco exposições sobre a América Latina, concebida por Priscila Arantes e Adriano Casanova.
O projeto partiu da vontade de ambos os curadores de realizar um mapeamento da arte latino-americana. Mas em vez de centralizarem as pesquisas para desenhar tal mapa, decidiram democratizar o processo, definido por eles como “uma rede de pesquisa descentralizada”. Essa rede tem regras iniciais bem definidas: os curadores escolhem um artista para uma exposição individual, e ele, por sua vez, deve convidar outros cinco para uma mostra coletiva simultânea.
“Ultramar Sur”, a individual de Patrick Hamilton que abre a série de exposições, tem a colonização como questão central. No vídeo, a intrigante imagem de um submarino que emerge e desaparece das águas remete ao mecanismo do trabalho do artista chileno, que revela e obstrui fragmentos de uma história que fica entre o real e o fictício. Hamilton, por sua vez, é o responsável pela coletiva “Copa América”, com Alberto Baraya (Colômbia), Alexander Apóstol (Venezuela), Jota Castro (Peru), Teresa Margolles (México) e Wilfredo Prieto (Cuba). “Esse é um modelo de mapeamento em que os artistas se comunicam”, diz Adriano Casanova. Nas outras quatro edições do “Projeto 5x5”, serão selecionados para as mostras individuais um brasileiro, um argentino, um colombiano e um mexicano.
O interesse na América Latina se explica: Adriano Casanova é diretor artístico da Galeria Baró, que concentra 70% de seu time de artistas na região. E a pesquisadora Priscila Arantes, também diretora do Paço das Artes, está interessada em sistemas de reescritura da história. “Há hoje um deslocamento do discurso eurocêntrico. Daí, a importância de o historiador se empenhar em outras escrituras”, diz ela.
Em um momento em que a economia latino-americana renasce aos olhos do mundo, é a hora de rever nossa história. Esse projeto, que no final contará com ampla documentação em livro de cinco tomos e filmes documentais, será um belo capítulo dessa história.