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fevereiro 8, 2012
Mostra traz obras de Flávio de Carvalho, um dos principais artistas do país por Nahima Maciel, Correio Braziliense
Mostra traz obras de Flávio de Carvalho, um dos principais artistas do país
Matéria de Nahima Maciel originalmente publicada no caderno Diversão e Arte do jornal Correio Braziliense em 7 de fevereiro de 2012.
Impossível resumir Flávio de Carvalho. Nem o próprio artista conseguia tal proeza. É certo que também não se interessava muito por encaixar-se em definições. Esse tipo de prática gera amarras, engessa, prende, enquadra, tudo que Flávio de Carvalho não queria. Formado em engenharia, herdeiro de família paulista rica, pintor apegado ao expressionismo e performático subversivo, juntou tudo sob a alcunha de artista e fez São Paulo arregalar os olhos nas décadas de 1930 e 1940.
O que se vê espalhado pelas duas galerias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) a partir de hoje é fruto da multitude de inquietações plantadas na mente do artista. Com curadoria de Luzia Portinari, sobrinha de Cândido Portinari e especialista em modernismo brasileiro, Flavio de Carvalho — A revolução modernista no Brasil sobrevoa todos os caminhos que fizeram do artista um marco na história da arte paulistana.
Flávio de Carvalho acalentava vários discursos, mas tinha um especial ao qual era fiel e dedicado. Quando Mario de Andrade e Lasar Segall fundaram a Sociedade Pró-Arte Moderna, em 1932, Flávio tratou de criar dissidência e fez nascer o Clube dos Artistas Modernos (CAM). Era uma provocação, mas também uma maneira de assentar terreno para ideias artísticas intrigantes. O clube se tornaria referência no cenário artístico paulistano, sede física de palestras e debates inflamados protagonizados por gente como Tarsila do Amaral e Caio Prado Jr., palco para a música moderna de Camargo Guarnieri e abrigo para as criações do próprio Flávio. Luzia tentou recriar o CAM em uma das salas da exposição e vale partir desse canto para compreender o universo que movia o artista.
[SAIBAMAIS]
Flávio repelia ligação entre a elite e a arte. Apesar de rico e sofisticado —, saiu do Brasil aos 11 anos e voltou engenheiro, aos 22 — não gostava nem um pouco da separação entre arte e povo. Por isso idealizava performances nas quais promovia o encontro entre a rua e a arte de ateliê. Provocava alvoroço ao vestir roupas de criação própria, pinçadas em um guarda-roupa exótico batizado de New Look e concebido para instigar as pessoas. De saias, Flávio de Carvalho saía em procissão pelas ruas de São Paulo. “O que a Semana de 1922 fez entre quatro paredes, ele levou para a praça pública, para as experiências. Ele é o artista que consolidou a arte moderna anunciada pela semana”, acredita Luzia.
Além de originais do New Look e da instalação Provador — uma projeção na qual o público pode experimentar os figurinos —, atores vão circular pela exposição em experiências performáticas que reproduzem as ações do artista. Na pintura, Flávio desconstruía à maneira expressionista. Violento nas cores, desenhava diretamente na tela com as pinceladas e gostava especialmente de retratos. Mesmo nas paisagens em que a abstração se insinua, reina a figuração. A engenharia foi fonte de renda, mas raramente de satisfação. Flávio de Carvalho trabalhou como projetista para grandes construtoras e ficava frustrado de não conseguir imprimir as ideias modernistas nos projetos da época. A linha reta e limpa da arquitetura moderna ainda perdia espaço para simbolismos e outras tendências.
A revolução modernista no Brasil
Curadoria de Luzia Portinari. Visitação até 29 de abril, de terça a domingo, das 9h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil (SCES Trecho 2, Lote 22).