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fevereiro 2, 2012
Um artista da fome por Paula Alzugaray, Istoé
Um artista da fome
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 27 de janeiro de 2012.
Inspirado em conto de Franz Kafka, artista belga monta castelo de alimentos industrializados e junk food em galeria paulistana
Enquanto o Carnaval não chega e o ano não começa de verdade no Brasil, a Galeria Luisa Strina aproveita o recesso prolongado com um projeto bastante original. Desde 16 de janeiro, o artista belga Trudo Engels ocupa a galeria montando a instalação “Le Chatêau”, em processo aberto ao público. “A instalação é de fato uma performance, na qual participam nove artistas, que na realidade são ele mesmo”, explica a curadora Catherine Bompuis. Em uma espécie de exposição coletiva com vários artistas, Engels trabalha na montagem de um castelo fictício, cuja mobília é composta por balas, salgadinhos, refrigerantes e alimentos com altos índices de gordura transgênica. “Uso só alimentos mortais”, declara Engels.
O artista conta que sua ideia original era alugar um apartamento em São Paulo, passar seis semanas comprando comida em casas de alimentação baratas e, no entanto, ficar sem comer nada. “Depois, achei que seria mais forte deslocar a exposição para dentro de uma galeria comercial”, conta Engels, que manteve o projeto de jejuar durante um mês. Com isso, ele pretende colocar em questão “a relação entre o sistema comercial da arte e a fome”.
O projeto é inspirado no conto “Um Artista da Fome”, de Franz Kafka, que aborda a perda de interesse público em vítimas de greves de fome. Um tema bastante oportuno, a considerar a morte recente do preso político cubano Wilman Villar Mendoza, em 19 de janeiro, após uma greve de fome que durou 56 dias.
Até 16 de fevereiro, quando “Le Chatêau” ganhará um vernissage para oficializar sua abertura, Engels manterá o jejum. “O estado de abstinência enfraquece o corpo, mas reforça mentalmente sua ação. Essa é uma forma de purificar o trabalho”, afirma. Até a abertura oficial, Engels e seus nove colaboradores representados por ele mesmo (os “vários artistas” citados no título da mostra) recebem o público todas as quintas-feiras para uma série de workshops e discussões sobre a indústria de produtos de consumo.