|
fevereiro 1, 2012
Mostra enfoca ressurgimento do MAM com doação de acervo por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Mostra enfoca ressurgimento do MAM com doação de acervo
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Foha de S. Paulo em 1 de fevereiro de 2012.
A primeira obra diz tudo: "Tempo Suspenso de um Estado Provisório" (2011), de Marcelo Cidade, é uma réplica de um dos cavaletes de Lina Bo Bardi (1914-1992) -criados para exibir o acervo do Masp, mas guardados na reserva do museu-, que no trabalho do artista está marcada por tiros de revólver.
Sarcasmo e trauma são facetas do trabalho de Cidade, que fala não só da violência urbana mas da violação que a obra de Bo Bardi sofre na atual disposição do Masp.
Pois é da violência e do trauma na história do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) que trata a mostra "O Retorno da Coleção Tamagni", cuja visitação se abre com a obra de Cidade.
A história é conhecida:
Ciccillo Matarazzo criou o MAM (1948) e depois a Bienal de São Paulo (1950), mas desistiu do primeiro e entregou sua coleção para a USP, que criou o MAC (1963), deixando o MAM sem acervo.
Pois a Coleção Tamagni é responsável pelo "ressurgimento" do MAM como museu, já que esse acervo foi recebido após a morte de Carlo Tamagni (1900-1966), colecionador e também conselheiro do espaço, e exibida na íntegra em 1968.
Os curadores Felipe Chaimovich e Fernando Oliva enfrentaram um grande desafio: mostrar uma coleção sem grande importância (ela está longe, por exemplo, das obras-primas da Coleção Nemirovsky, em comodato na Pinacoteca), apesar de contar com nomes significativos como Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral.
O grande valor do acervo está no gesto da doação, que deu nova vida ao MAM.
De certa forma, é justamente isso que diz "O Retorno da Coleção Tamagni" ao apresentar documentos e correspondências do período como se eles também fossem obras e ao exibir trabalhos contemporâneos, como o de Cidade, para criar novas leituras.
E, finalmente, é inteligente o uso de "Máquina Curatorial", de Nicolás Guagnini, composta por paredes que se movem e permitem combinações distintas entre as obras.
Apesar de ser um tanto apelativa, já que se trata de um jogo de cartas marcadas, no qual a real participação do espectador é limitada a empurrar paredes, é em sua perversidade que a "Máquina Curatorial" ajuda a entender o que diz a exposição: o que está na parede não importa muito desde que alguém esteja passando por ali.
Agenda de Eventos
O retorno da Coleção Tamagni: até as estrelas por caminhos difíceis, Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM SP, São Paulo - SP, 13/01/2012 a 11/03/2012
english