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janeiro 30, 2012
Restaurado, Museu de Belas Artes, no Rio, segue em ruínas por Cristina Grillo e Silas Martí, Folha de S. Paulo
Restaurado, Museu de Belas Artes, no Rio, segue em ruínas
Matéria de Cristina Grillo e Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 29 de janeiro de 2012.
Diretora da instituição carioca avalia que o estado geral já melhorou, mas espera fundos para acabar trabalhos
Com rachaduras e infiltrações, prédio de 1908 passa por obras para abrigar grandes mostras neste ano
Os últimos oito anos foram de arrumação da casa. Mas, mesmo depois de R$ 15 milhões gastos em obras de infraestrutura, o Museu Nacional de Belas Artes, no centro do Rio, ainda tem problemas.
Nada tão grave quanto a situação em que a instituição se encontrava na década passada, na avaliação de Mônica Xexéo, funcionária de carreira da casa desde 1980 e sua diretora desde 2006.
Tanto que se sente confiante para programar duas grandes exposições em comemoração dos 75 anos do museu.
Na terça, 31, será aberta a convidados a mostra "Modigliani"; no fim de junho, será a vez de Leonardo da Vinci ocupar o local.
Há tempos o museu não traz ao Rio mostras de tal porte. Nos anos 90, multidões se formaram às suas portas para ver obras de Monet, Rodin e Salvador Dalí.
No passado recente, abrigou exposições do quadrinista Mauricio de Sousa, o criador da Mônica, e da animação "Rio", de Carlos Saldanha.
"Precisávamos parar e pôr ordem em tudo. Tínhamos grandes problemas estruturais e não havia como oferecer muita coisa para o público", diz a diretora.
Ela lista os feitos dos últimos anos: a reserva técnica foi modernizada, e os telhados, impermeabilizados; três das quatro fachadas foram reformadas, um novo sistema de segurança eletrônico foi instalado e toda a parte elétrica e hidráulica foi revista.
Mas ainda há problemas no prédio de 1908, transformado em museu 30 anos depois, que abriga o acervo da Academia Imperial de Belas Artes trazido por d. João 6º.
CALOR
Por enquanto, só uma máquina de ar-condicionado funciona, o que tem mantido as temperaturas em alta nas galerias do século 19, de arte moderna e contemporânea.
Em quatro das galerias -as que receberão as obras de Amedeo Modigliani- está sendo instalado um sistema de ar-condicionado central.
Os recursos já gastos não chegaram até a quarta fachada do edifício. Segundo Luciano Lopes, arquiteto do Iphan que acompanha as reformas, a última face, da rua Heitor de Melo, não foi restaurada porque a cúpula central deve passar por obras primeiro, para evitar novos danos que possam ser causados pelo transporte de materiais.
Em estado calamitoso, a cúpula aguarda a liberação de R$ 7 milhões do Ministério da Cultura para passar pelo restauro. Há janelas sem vidros, grandes rachaduras nas paredes que permitem ver o exterior e focos de infiltração; a pintura e os revestimentos estão descascados.
Na entrada principal, colunas de sustentação também estão descascadas, e parte dos frisos nas galerias de moldagens está quebrada. Numa delas, a claraboia também apresenta vazamentos.
Fechada para reformas por quatro anos, a galeria de arte do século 19, reaberta ao público em 2011, ainda tem demarcações, feitas com fita adesiva vermelha, das áreas atingidas por goteiras.
A direção do museu explica que as marcações se devem à prova de contrato: as obras feitas supostamente terminaram com as goteiras, mas a indicação precisa ficar visível por certo período para que, caso voltem, os responsáveis pela obra possam ser acionados.
"Para completar o trabalho, precisamos de mais R$ 10 milhões. O governo federal nos garantiu a liberação de R$ 8 milhões ao longo de 2012 e 2013. O restante vamos buscar na iniciativa privada", explica Mônica Xexéo.