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janeiro 30, 2012
'Não queremos ser um espetáculo de mídia', diz diretor por Silas Martí, Folha de S. Paulo
'Não queremos ser um espetáculo de mídia', diz diretor
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada da Folha de S. Paulo em 28 de janeiro de 2012.
Tadeu Chiarelli defende abertura 'paulatina' do museu, que receberá acervo completo só em outubro deste ano
Impasses atrasam a mudança do museu desde 2007, quando decreto determinou que Detran saísse do local
Não foi fácil chegar até aqui. Mesmo que a inauguração tímida do Museu de Arte Contemporânea da USP em seu novo endereço no Ibirapuera deixe a desejar ao expor só uma parte ínfima do acervo e ao não abrir todo o prédio ao público, o maior dos impasses já foi superado.
"Isso consolida um grande polo cultural da cidade", diz o secretário estadual da Cultura, Andrea Matarazzo. "A entrega do prédio é o início das atividades do museu."
Do decreto que transformou o Detran em MAC, em 2007, até hoje, foram quase cinco anos de contratempos para que o museu pudesse se instalar onde está agora.
Primeiro, o projeto de reforma de Oscar Niemeyer, que desenhou o prédio original, foi vetado pela defesa do patrimônio histórico porque o Palácio da Agricultura, de 1951, é um bem tombado.
Também era cara demais a proposta, orçada em R$ 120 milhões. Depois, a Secretaria de Estado da Cultura destinou pouco mais de metade disso para adequar os espaços internos, sem grandes mudanças estruturais, a fim de abrigar o acervo do museu.
Passada a reforma, que terminou em setembro do ano passado, a Universidade de São Paulo não chegava a um acordo com o governo do Estado sobre quem deveria bancar a operação do MAC.
A solução, costurada pelo governador Geraldo Alckmin, foi doar o imóvel à USP. Um decreto deve oficializar o ato.
MARCHA LENTA
Agora, quase três anos depois da primeira data fixada para a inauguração do museu, em junho de 2009, o MAC abre em marcha lenta.
"Iniciar a implantação do museu com uma mostra muito enxuta diz que não queremos ser um espetáculo de mídia", diz o diretor do museu, Tadeu Chiarelli à Folha. "O MAC tem que ter um 'delay', um pé atrás em relação à sociedade de consumo na qual a arte está mergulhada."
É com esse argumento que ele defende a mudança "paulatina" para a nova sede. Primeiro, só o térreo será ocupado com uma pequena mostra de esculturas.
Em maio, serão abertas individuais de León Ferrari, Julio Plaza e Rafael França a partir de obras do acervo. Julho terá individuais de Di Cavalcanti e José Antônio da Silva e uma coletiva de artistas contemporâneos em diálogo com obras da coleção.
Só em outubro é que cerca de 2.000 obras, um quinto de todo o acervo, passarão a ser expostas em caráter permanente em quatro dos sete andares do prédio principal.
"Temia uma equipe sem intimidade com o espaço tentando ocupar tudo de uma vez só", diz Chiarelli. "Esse espaço será testado, vamos tentar levantar hipóteses."
Mas embora Chiarelli defenda hoje certa cautela na mudança, ele conhece bem o espaço desde abril de 2010, quando assumiu a direção do MAC. Na época, ele já elaborava um plano de ocupação, o mesmo que será implantado até outubro deste ano.
Sua antecessora, Lisbeth Rebollo Gonçalves, também esboçou planos de mudança para a nova sede até o fim de sua gestão, há dois anos.
Segundo Chiarelli, a mudança toda será concluída em abril do ano que vem, quando o MAC faz 50 anos.
"Vejo a abertura dessa exposição agora como o início da comemoração", diz o diretor. "É uma implantação discreta, mas definitiva."