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janeiro 18, 2012
Site cria escassez artificial para dar mais valor às obras por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Site cria escassez artificial para dar mais valor às obras
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 20 de dezembro de 2011.
Para se contrapor à reprodutibilidade da era digital, arquivos têm tiragem limitada e controle antipirataria
Obras ficam guardadas em 'cofre virtual', são numeradas, assinadas pelos artistas e podem ser revendidas depois
Enquanto sites que vendem obras de arte on-line proliferam já há alguns anos, o S[edition] tenta inovar com a ideia de trabalhos que não existem de forma física criados para plataformas digitais.
Com preços que vão de US$ 8 a US$ 800 (de R$ 15 a R$ 1.500), cada obra tem edição limitada -de 2.000 a 10 mil exemplares, no máximo.
É uma novidade que vai na contramão da reprodutibilidade infinita de conteúdos que virou realidade na era digital. Usando mecanismos de controle, o site cria uma escassez artificial para valorizar obras, da mesma forma que ocorre no mercado real.
"Quando você compra um trabalho, ele fica armazenado no seu cofre virtual e pode ser acessado do seu telefone, tablet ou computador", explica Robert Norton, um dos fundadores do site. "Você também recebe um certificado de autenticidade e a obra é monitorada para que não seja copiada on-line."
Numa tentativa de garantir a segurança, os arquivos também vêm com uma marca d'água digital que permite que sejam rastreados.
Isso tudo porque, como esperam os organizadores do site, os múltiplos vão valorizar ao longo dos anos e poderão ser revendidos à medida que se tornarem raridades.
Nesse ponto, o site está longe de ser um "iTunes da arte", como já descreveu Norton. Mas, assim como a loja da Apple, recém-chegada ao país, o fundador do S[edition] vem a São Paulo nesta semana atrás de artistas brasileiros para engrossar seu time.
Também atenta à indústria das artes, que movimenta US$ 60 bilhões por ano, a Samsung, fabricante de tablets, está desenvolvendo telas especiais de cristal líquido que são capazes de reproduzir cores e pinceladas com exatidão.
"É cedo ainda para saber o impacto disso", diz Norton. "Mas com telas cada vez mais poderosas, as pessoas vão enxergar que cabe arte ali."
IMAGENS COMO DOENÇA
Querendo ou não, o S[edition] arrisca abrir as portas da distribuição infinita para obras de arte, que vão ser cada vez mais virtuais num mundo que pode vir a se satisfazer com a imagem da coisa e não a coisa em si.
Kenneth Goldsmith, fundador do UbuWeb, espécie de YouTube cult que exibe vídeos clássicos de artistas, vê nesse movimento um passo para que a arte deixe de ser "um antiquário pautado só pela ideia de objetos únicos".
"Há um imediatismo na internet. As pessoas gostam de imagens, que se propagam mais rápido do que uma doença", diz Sue Webster, outra artista com obras no S[edition]. "E se no lugar de uma praga, espalhássemos só imagens?"