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janeiro 18, 2012
Na internet, site ensina a investir por meio de incentivos fiscais por Anna Virginia Balloussier, Folha de S. Paulo
Na internet, site ensina a investir por meio de incentivos fiscais
Matéria de Anna Virginia Balloussier originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 19 de dezembro de 2011.
Cultivo.cc pretende atrair dinheiro para pequenos projetos
Conseguir aprovar seu primeiro projeto na Lei Rouanet não é o que tira o sono da produtora Camila Boer, 34.
Dureza mesmo, ela aposta, será a etapa seguinte: encontrar um patrocinador que banque os R$ 3 milhões estimados para "Que Samba É Esse?", projeto que inclui série de shows e documentário sobre o samba-rock do cantor Jorge Ben e companhia.
Muito produtor já gastou sola de sapato na mesma via-crúcis pela qual Boer passa.
Para contornar esse caminho, uma nova plataforma na internet quer fazer o meio de campo entre projetos com dificuldades para captar recursos e potenciais investidores.
O diferencial do Cultivo.cc (www.cultivo.cc) é aliar a lógica do "crowdfunding" a leis de incentivo fiscal do Brasil.
"Crowdfunding" quer dizer financiamento da multidão -uma espécie de "vaquinha" do século 21. Com a ajuda de redes sociais, como Twitter e Facebook, levanta-se pequenas quantias até que se chegue à bolada necessária para realizar um projeto.
A prática funcionou até catapultar a campanha de Barack Obama.
ENTRAVES DA ROUANET
O portal trabalhará com três leis federais de isenção fiscal: Rouanet, Audiovisual e Esporte. Será uma vitrine de projetos para possíveis mecenas, investindo em processo ativo de captação de recursos.
Há várias formas de financiar uma proposta e debitar esse valor no Imposto de Renda. Via Rouanet, apoiar shows de MPB, por exemplo, rende descontos parciais no imposto. Outros setores, como artes plásticas, dão 100% de isenção ao investidor.
Isso tudo dentro de um limite do quanto se pode aplicar do IR: 4% para pessoas jurídicas e 6% para as físicas.
O problema é que, hoje, burocracia, "juridiquês" e desconhecimento sobre a lei funcionam como espantalhos para o investidor, diz o designer Gustavo Junqueira, 27, um dos quatro sócios do Cultivo.
Em outras palavras: fora grandes empresas, há muito "peixe pequeno" por fora da lei. Vai pelo ralo a chance de que "as pessoas possam ver o que está sendo feito com o dinheiro do imposto".
Em 2010, o Ministério da Cultura deu sinal verde para que projetos captassem cerca de R$ 5 bilhões pela Rouanet, mas só se angariou 30% desse valor, segundo os dados mais recentes da pasta.
Para o colunista da Folha Ronaldo Lemos, o problema é "conjugar a boa ideia com a realidade burocrática da Rouanet". Ele lembra propostas similares que não avançaram, como perguntar no formulário de declaração do IR: "Quer contribuir para projetos culturais? Marque um X aqui".
A vantagem do Cultivo.cc "seria aproveitar a internet para isso, sem necessidade da cooperação da Receita", diz Lemos.