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janeiro 17, 2012
Eu, robô por Nina Gazire, Istoé
Eu, robô
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 6 de janeiro de 2012.
SERGIO ROMAGNOLO - A Feiticeira e as Máquinas / Casa Triângulo, SP / até 28/1
O artista Sergio Romagnolo está atualmente debruçado sobre a produção de uma obra de ficção literária que está alimentando sua investigação artística – ou vice-versa. “A história é sobre os dois últimos sobreviventes do planeta Terra, que são um androide e uma mulher”, diz Romagnolo, que trabalha no livro desde 2004. Mas, enquanto a obra não é publicada, algumas passagens dessa história podem ser visualizadas na exposição “A Feiticeira e as Máquinas”, em São Paulo. As pinturas que integram a mostra são como um longo storyboard, formado por imagens completamente fora de foco, que aparecem embaralhadas, como fotografias captadas em alta velocidade. São imagens difusas que dialogam com a realidade contemporânea, mediada por máquinas de visão, como a tevê ou o cinema.
Mas é a Marcel Duchamp – que não conheceu a televisão – que Romagnolo atribui a perturbação trêmula de Samantha, o famoso personagem do seriado “A Feiticeira”, dos anos 1960, que aqui é transposta da tela da tevê para as telas do artista. “As minhas máquinas têm relação com Duchamp, artista que trabalhou a pintura com esse olhar maquínico como, por exemplo, em ‘Nu Descendo a Escada’. Ele fez essa pintura de sobreposições a partir de uma máquina fotográfica. É algo próximo da representação real de uma imagem, o olho humano nunca está totalmente parado e apenas temos a impressão de ver as coisas com foco”, explica o artista.
As máquinas não aparecem na obra de Romagnolo apenas por meio dessa referência pictórica. Elas também participam, principalmente, da ficção que o artista paulatinamente constrói nas dez esculturas feitas de plástico e sucata, pedaços de tênis e sandálias Havaianas.
“Só uso materiais que dialogam com essa perspectiva, o plástico, a máquina, etc. O plástico, por exemplo, é uma coisa da minha experiência cotidiana”, afirma Romagnolo que transformou objetos banais em personagens da história.