|
janeiro 17, 2012
A estética do mau comportamento por Paula Alzugaray, Istoé
A estética do mau comportamento
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 6 de janeiro de 2012.
Em Nova York, obra completa de Maurizio Cattelan é suspensa em instalação vertiginosa e monumental
Sem fotografias ou desenhos expostos nas paredes, ou esculturas apoiadas sobre o chão, a retrospectiva do artista italiano Maurizio Cattelan no Guggenheim de Nova York é composta por 128 obras que não seguem os parâmetros clássicos de exibição. Desobedecendo a ordens cronológicas e quaisquer padrões expositivos, a instalação “All” (Tudo) compreende o conjunto de obras produzidas por Cattelan desde 1989 em um grande móbile suspenso na rotunda do museu. O formato expositivo – associado por uns à banalidade de um varal de roupas secando e por outros ao trágico cenário de uma execução em massa – é afinal a tradução do que a curadora do Guggenheim, Nancy Spector, classifica como uma “estética do fracasso”.
O erro, a fuga e o fracasso são associados à obra de Cattelan desde sua estreia como artista: em 1989, na ocasião de sua primeira exposição individual em Bolonha, deixou a galeria vazia e colocou na porta o aviso “Volto logo”. O pequeno cartaz está hoje pendurado no pescoço de um cão labrador empalhado, suspenso na rotunda do Guggenheim. Décadas depois da estreia controvertida, a propensão de Cattelan para o mau comportamento viria a se consolidar com “L.O.V.E” (2010), a escultura de um dedo do meio em riste instalada diante do edifício da bolsa de Milão.
No Guggenheim, a cópia da famosa escultura de gesto obsceno divide a atenção do público com outros highlights, como as esculturas de cera “Him” (2001), representando Hitler em pose de súplica, ou “La Nona Ora” (1999), o papa João Paulo II atingido por um meteorito. Entre os objetos voadores em retrospectiva, diversos Picassos com braços abertos, um Kennedy num caixão, um esqueleto gigante de dinossauro e uma miríade de cadáveres em diversos formatos são ícones associados ao poder, à morte e à fé – os três grandes temas que orientam as pesquisas de Cattelan.
Sua organização em uma grande instalação vertiginosa e monumental evoca a sede e a adoração que o público tem pelos grandes acontecimentos históricos e pela monumentalização da cultura.
A julgar pelas filas de dobrar quarteirões, confirma-se aqui que a fama de bad boy e a estética do mau comportamento são parte de uma infalível estratégia de marketing.