|
janeiro 16, 2012
Pinacoteca rearranja acervo e recria narrativas artísticas por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Pinacoteca rearranja acervo e recria narrativas artísticas
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 14 de janeiro de 2012.
Museu monta quatro salas para mostras temporárias com obras da coleção
A fase ascendente que a Pinacoteca do Estado de São Paulo atravessa e que a vem consolidando como o museu mais importante do Brasil chega agora a um patamar inédito com a nova disposição de seu acervo.
"Arte no Brasil - Uma História na Pinacoteca de São Paulo", título da organização atual das obras, não só rearranja os trabalhos no segundo andar do edifício como também faz com que o acervo -que tem agora 550 peças em exibição, em vez de 810- crie novas narrativas.
A primeira delas é a introdução de obras contemporâneas ao longo da mostra, que traça um percurso que se extende desde o século 17, com o barroco e obras de artistas viajantes, até o modernismo, na década de 1930.
Nesse percurso, pode-se ver, numa sala dedicada aos artistas estrangeiros, uma tela do holandês Frans Post (1612-80) perto da escultura "Nuvens" (1967), da brasileira Carmela Gross; o diálogo aponta para uma reflexão sobre o céu do Brasil.
Outro expediente que ajudou a gerar novas narrativas no acervo, também quebrando sua ordem cronológica, foi a criação de quatro salas para exposições temporárias que propõem recortes temáticos sobre a coleção.
Uma das mostras, "Viajantes Contemporâneos", com curadoria de Ivo Mesquita, mostra como há uma vertente na produção atual que faz o caminho inverso daquele seguido por artistas itinerantes no século 17.
Agora, são os brasileiros que estão interessados em outras culturas, como os fotógrafos Mauro Restiffe -que retrata motoboys japoneses em Tóquio- e Vicente de Mello -com imagens um tanto saudosistas de locais distantes como Veneza, Machu Picchu ou Lisboa.
VISCONTI
Outra dessas exposições temporárias é dedicada apenas a autorretratos de Eliseu Visconti (1866-1944), italiano que se radicou no Brasil. O artista ganha uma retrospectiva com 230 trabalhos.
A trama que o novo arranjo da coleção inventa torna o museu mais dinâmico e reforça um preceito importante: o de que não se deve apresentar arte de forma rígida.
Ainda com Eliseu Visconti, coloca-se em xeque o senso comum de que a modernidade só chegaria ao Brasil após a Semana de 22, já que o artista realizou grande parte de suas obras, nada acadêmicas, bem antes do marco paulistano organizado no Theatro Municipal.
Outro achado que vale destacar é a introdução da radical obra anticlerical do argentino León Ferrari numa sala dedicada aos gêneros da pintura.
A disposição inovadora do acervo da Pinacoteca confirma que é do acervo que de fato se irradia a importância de um museu.
ARTE NO BRASIL - UMA HISTÓRIA NA PINACOTECA DE SÃO PAULO
QUANDO de ter. a dom., das 10h às 17h30
ONDE Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel. 0/xx/11/3324-1000)
QUANTO R$ 6 (grátis aos sábados)
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO ótimo