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janeiro 16, 2012
Sobre o tempo e a distância por Júlia Lopes, O Povo
Sobre o tempo e a distância
Matéria de Júlia Lopes originalmente publicada no caderno Vida & Arte do jornal O Povo em 12 de janeiro de 2012.
Duas exposições de arte contemporânea abrem hoje no Centro Cultural Banco do Nordeste. Uma tendo como tema o tempo e o território; a outra, a distância
Amarras feitas de tempo e espaço. Amarras de vento, quase: em uma das exposições que abre hoje no Centro Cultural Banco do Nordeste, às 19 horas, essas palavras amplas serviram como linha guia para a curadora Cecília Bedê montar Não mais impossível, mostra que reúne trabalhos dos artistas Fábio Tremonte e Lais Myrrha, ambos residentes em São Paulo - assim como Cecília, cearense radicada em terras paulistanas.
Fotografias e vídeos compõe a exposição que procura lidar ainda com outras palavras-chave, como território e memória – variações de outros contornos. No texto de curadora, Cecília fala de trabalhos que “agem como espécies de utopias efetivamente realizadas que acabam por deixar aberto, o espaço para a entrada do outro”. Em conversa com O POVO, ela detalhou um pouco mais esses conceitos.
“É meio contraditório mesmo: a ação é realizada mas não se efetiva”, falou. “Na verdade, tem muito a ver com os vídeos, mas não só, é sobre ocupação de um espaço subjetivo, porque não tem definição, referência, é como se fosse essa a ação impossível”.
Fábio, que cursa, atualmente, mestrado em artes visuais na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), trouxe uma série de oito fotografias de faixas de pedestres que remete a uma experiência própria e um desejo de tratar com a memória. “Eu tenho a prática de caminhar, em São Paulo. Ando muito, às vezes pego metrô, ônibus, mas prefiro caminhar. E a faixa funciona como um obstáculo”, colocou ele, na tarde da última terça-feira.
Ele explica: “Ela (faixa), por vezes, está apagada, os motoristas param em cima...”. Em outro vídeo, Fábio, dessa vez, explicita a caminhada: em Red Flag, para a esquerda, sempre, ele sustenta uma grande bandeira vermelha no ombro. “Antes de ser a cor de um partido, o vermelho sempre esteve nas manifestações de rua. Ao mesmo tempo, os empreendimentos imobiliários, em São Paulo, algum tempo atrás, também colocavam moças balançando bandeiras vermelhas”, detalha.
“Enquanto todos os trabalhos remetem a um espaço com memória, eles te deixam livre disso, de uma data, por exemplo”, acrescenta Cecília. Fábio apresenta ainda Prumo e Metro Quadrado. Já Laís, que não veio a Fortaleza por motivos pessoais, apresenta três obras. Uma série de fotografias, Biblioteca para Dibutade, com imagens das paredes de uma biblioteca e suas marcas do tempo. E os vídeos Coluna Infinita e Compensação dos erros.
Em outro espaço do CCBNB, uma segunda exposição é aberta: Entre ficar e ir embora. Com curadoria de Waléria Américo, a mostra traz desenhos, gravuras, instalações, fotografias e vídeos dos artistas Cris Soares e Emanuel Oliveira. A proposta de Waléria é ligar os artistas e os trabalhos pelo sentimento de construção e distanciamento.
O tema da distância esteve imbricado desde o início dos trabalhos: enquanto a dupla mora aqui, Waléria reside em Portugal.