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dezembro 7, 2011
Mira Schendel ganha mostra em São Paulo por Camila Molina, O Estado de S. Paulo
Mira Schendel ganha mostra em São Paulo
Matéria de Camila Molina originalmente publicada no caderno de cultura do jornal O Estado de S. Paulo em 6 de dezembro de 2011.
"Nunca faria uma pintura completamente lisa. Erradíssima a arte que cobre completamente essa textura, esse movimento da mão. Dou a maior importância que seja assim manual, que seja artesanal, que seja vivenciada, que saia assim da barriga", afirmou, em 1981, a artista Mira Schendel sobre sua obra pictórica. Criadora consagrada, é sua produção sobre papel, com destaque para as monotipias que realizou na década de 1960, a série das Droguinhas e o Trenzinho - pertencentes a coleções brasileiras e internacionais -, a mais reconhecida, exaltada, até mesmo, na recente mostra que o MoMA de Nova York promoveu colocando em diálogo a obra de Mira e do argentino León Ferrari. "Ela foi a poeta do papel", diz a historiadora Maria Eduarda Marques, curadora de uma exposição que, agora, entretanto, se detém apenas nas pinturas que a artista criou durante sua trajetória, uma vertente pouco vista. Mira Schendel, Pintora, que será inaugurada hoje no Instituto Moreira Salles (IMS), exibe 29 pinturas realizadas pela artista entre os anos 1950 e 80.
A mostra já foi apresentada no Rio e chega a São Paulo trazendo exemplos do que foi o laboratório de experiências de Mira Schendel (1919- 1988) no campo pictórico. Afinal, quando a suíça chegou a Porto Alegre, em 1949, ela só queria pintar. "A vida era muito difícil, não tinha dinheiro para pagar as tintas, mas eu comprava tinta vagabunda e pintava apaixonadamente. Questão de vida ou morte", também afirmou a artista em entrevista que concedeu, em 1981, ao pintor Jorge Guinle.
Mais ainda, Mira participou da 1.ª Bienal de São Paulo, em 1951, exibindo nada menos que uma pintura. Pouco se vê de forma condensada a obra pictórica de Mira em exposições atuais, porque a maioria das produções dessa vertente está hoje nas mãos de colecionadores privados e da família da artista. "Há na exposição apenas três obras que pertencem a instituições brasileiras, ao MAC-Niterói e à Faap", conta Maria Eduarda Marques. Ainda como parte do esforço de jogar luz à obra pictórica da artista, o IMS preparou um catálogo com textos de épocas diferentes e assinados, entre outros, por pintores como Marco Giannotti, que conviveu com Mira. Também será realizada no sábado, às 16 horas, uma mesa-redonda com a curadora, o crítico Rodrigo Naves e o artista Sergio Sister.
Mira Schendel, Pintora, perpassa, de maneira cronológica, o percurso que, mesmo pictórico, carrega questões fundamentais do pensamento artístico dessa criadora. "É a pintura como campo do espaço denso, das cores opacas, da não transparência, da matéria", define Maria Eduarda. Há a figuração e a abstração nas obras pictóricas de Mira, o simbolismo do mundo judaico-cristão, a paleta baixa que remete, explicitamente, à pintura metafísica dos italianos Giorgio de Chirico e Morandi, suas grandes referências.Mira nasceu em Zurique, radicou-se no Brasil, vivendo, desde os anos 50 e até sua morte, em São Paulo. De origem judaica, ela passou a década de 1930 na Itália, onde promoveu densa formação em arte e filosofia.
Como se vê ainda na exposição, a artista também incorpora o léxico e "memórias involuntárias", considera a curadora, em telas tradicionais ou de juta carregadas de tinta e materiais como gesso, pó de tijolo e folhas de ouro, essas, usadas, no fim dos anos 70 e na década de 80, num conjunto minimalista. Até se chegar à derradeira série completa que Mira produziu em sua vida, a dos Sarrafos, misto de pintura e pensamento tridimensional, de 1987. Como já afirmou a crítica Sônia Salzstein, essas obras são a "expressão mais violenta e contundente de todas as formulações anteriores" da artista. Das 12 grandes têmperas brancas com sarrafos pretos, 2 estão na exposição.