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novembro 28, 2011
Arqueologia da cultura por Paula Alzugaray, Istoé
Arqueologia da cultura
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno de Artes Visuais da revista Istoé em 25 de novembro de 2011.
Estação Pinacoteca expõe Jac Leirner, artista que transformou notas de dinheiro, sacolas plásticas e cartões de visita em esculturas
Jac Leirner/ Estação Pinacoteca, SP/ até 26/2/2012
É possível contar nos dedos das mãos os materiais com que Jac Leirner trabalhou nas últimas três décadas. Sacolas plásticas, adesivos, etiquetas e notas de dinheiro talvez tenham sido os mais frequentes. Esses são os principais elementos que compõem suas 60 obras em retrospectiva na Estação Pinacoteca, em São Paulo, até fevereiro.
Rever, 22 anos depois, a instalação “Nomes” (1989), composta de centenas de sacolas plásticas com logotipos comerciais cobrindo as paredes do espaço expositivo, é enveredar por uma espécie de arqueologia da cultura e deparar com marcas, costumes e tecnologias que não existem mais. Reconhecer os logotipos de marcas como a loja de discos Tower Records ou o filme fotográfico Kodacolor Gold é dar-se conta da obsolescência das mídias e de nosso novo estatuto cultural.
Quando realizou esse trabalho, em 1989, Jac Leirner incutia, por trás da sedutora camada de cores e formas de suas coleções de sacolas, seu comentário sobre a sociedade de consumo. O comércio, a publicidade e o mercado sempre foram sua matéria-prima. “Sua obra é conhecida pelo interesse que demonstra por tudo o que circula no mundo (mercadorias) e pelo que torna tal circulação possível (o dinheiro)”, escreve o curador, Moacir dos Anjos, no catálogo da mostra.
Observadas desde nosso ponto de vista, suas séries com notas de cruzeiro também formam uma arqueologia da economia inflacionária que tivemos durante décadas no Brasil – e em cujo ápice, os anos 1980, Jac Leirner começou sua atividade artística. São fartas as obras em exposição que, ao explorar o recurso da repetição e o acúmulo de notas de 100 cruzeiros e, mais tarde, de 100 cruzados, remetem à escalada de desvalorização do capital nacional.
“Sou uma herdeira do Modernismo. Lucio Fontana, Paul Klee, e Josef Albers estão explicitamente presentes nesses trabalhos”, declarou Jac Leirner em uma entrevista sobre sua série recente de sacolas recortadas e perfuradas, intitulada “Vazio”. Não seria arriscado dizer que “Boogie Woogie”, o tributo que Mondrian prestou às luzes da Broadway, em forma de pontos de cores, também esteja explicitamente presente em “Hip-Hop” instalação de Jac Leirner com fitas adesivas coloridas recortadas sobre parede.
Mais que com Mondrian, Fontana ou Klee, porém, Jac Leirner se relaciona intimamente com a tradição construtiva brasileira.
Isso está presente na estrutura modular com que organiza os materiais industrializados em suas instalações, mas também em suas pequenas pinturas à aquarela, trazidas a público pela primeira vez.