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novembro 22, 2011
Design inventivo dos irmãos Campana sofre com rigor por Fabio Cypriano, Folha de S. Paulo
Design inventivo dos irmãos Campana sofre com rigor
Matéria de Fabio Cypriano originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 22 de novembro de 2011.
Fernando e Humberto Campana são hoje os mais celebrados designers brasileiros.
A trajetória da dupla, mais conhecida como irmãos Campana, é tema da mostra "Anticorpos", no Centro Cultural Banco do Brasil, organizada por Mathias Schwartz-Clauss, que teve início no Vitra Design Museum, na Alemanha.
Não é de hoje que o design brasileiro ganha atenção no cenário internacional.
De certa forma, Sérgio Rodrigues e Joaquim Tenreiro são os precursores, com seu desenho modernista aliado a materiais brasileiros.
Os Campana, que começaram a produzir na década de 1980, ganharam destaque justamente por transformarem essa equação: afastaram-se do funcionalismo moderno, mas radicalizaram na apropriação de elementos da cultura popular.
Bonecas de pano, construções simples com restos de madeira e plantas da Amazônia são alguns dos elementos que inspiraram, respectivamente, a cadeira Multidão, a cadeira Favela e os bancos Vitória Régia, todos na mostra.
Esse imaginário, com grande apelo aos olhos, reforça um estereótipo do caráter exótico da cultura brasileira e pode ajudar a compreender o crescente interesse internacional pelo trabalho da dupla de designers.
DIDATISMO
Nesse sentido, a mostra, que ocupa todos os andares do CCBB com cerca de 70 trabalhos, é bastante didática.
Ela ensina que o sofá Kaiman Jacaré (2006) "foi inspirado nos jacarés caiman da bacia amazônica, que podem chegar a mais de seis metros de comprimento", ou que o assento Diamantina, com o mesmo nome da cidade mineira que foi rica em diamantes, "simboliza os muitos tesouros escondidos e ameaçados no Brasil".
Assim como as peças de estética fácil e agradável, os textos utilizados para explicá-las beiram o kitsch.
O que não necessariamente representa um caráter negativo para a obra. Foi assim com outro grande nome do design internacional, Philippe Starck, que sobressaiu exatamente por criar um corpo de trabalhos bem apelativos, nos quais a forma também se sobrepõe à função.
Os Campana, afinal, levam ao mundo a mensagem de que o Brasil também é capaz de ser pós-moderno.
Contudo, para uma mostra de design, há um rigor dispositivo que não combina com esse conjunto de trabalhos.
A sinalização é um tanto confusa, já que muitas vezes é preciso buscar as legendas para entender o nome das obras, e a disposição é formal demais para peças que são tão orgânicas.
Fica contraditório expor um design tão inventivo de maneira tão careta.
ANTICORPOS
QUANDO de ter. a dom., das 9h às 21h; até 15/1/2012
ONDE Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, SP, tel. 0/xx/11/3113-3651)
QUANTO entrada franca
AVALIAÇÃO regular