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novembro 18, 2011
Pintor de retículas por Paula Alzugaray, Istoé
Pintor de retículas
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada no caderno de Artes Visuais da revista Istoé em 11 de novembro de 2011.
Masp expõe obra gráfica completa do alemão Sigmar Polke, artista que foi ao mesmo tempo crítico do socialismo e do capitalismo
Sigmar Polke – Realismo Capitalista e Outras Histórias Ilustradas/ Museu de Arte de São Paulo (Masp), SP/ até 29/1/12
Em 1963, auge da Guerra Fria, o jovem estudante da Academia de Artes de Düsseldorf Sigmar Polke organiza, juntamente com os colegas de classe Gerhard Richter e Konrad Fischer, uma performance intitulada “Realismo Capitalista”. Algumas décadas depois, Fischer seria considerado um dos mais inovadores e influentes marchands de sua geração, e Richter e Polke seriam dois dos mais importantes nomes da arte alemã. Até sua morte, em 2006, Polke desdobraria e renovaria os sentidos da performance realizada aos 20 anos. “Sigmar Polke – Realismo Capitalista e Outra Histórias Ilustradas”, no Masp, mostra os frutos que essa ideia rendeu em 35 anos de obras gráficas.
Polke nasceu em 1941 em Oels, na Silésia, região incorporada à Alemanha Oriental em 1949, e aos 12 anos mudou-se com a família para a então Alemanha Ocidental. Sua vivência dos dois regimes lhe deu autoridade para inventar o realismo capitalista, em sátira ao realismo socialista (doutrina estética oficial da antiga União Soviética) e como crítica a uma arte ocidental marcada pela adesão aos valores do mercado. Isto é, em sua produção artística, Polke conseguiu ser simultaneamente crítico ao socialismo e ao capitalismo.
O artista é reconhecido por sua atuação na pintura – em 1975, inclusive, ganhou o prêmio de pintura na 13ª Bienal de São Paulo. Mas a presente exposição, com curadoria de Tereza Arruda, brasileira residente em Berlim, vem argumentar que sua obra gráfica é tão forte e representativa de seu estilo quanto a obra pictórica. Polke foi sempre um adepto das misturas de técnicas e descobriu na gravura um meio favorável ao encontro entre o desenho, a fotografia, a pintura e até mesmo o grafite. Ao sobrepor técnicas e temáticas em várias camadas de tinta, não estaria ele, afinal, se referindo aos excessos do capitalismo?
A exposição traz ao Brasil cerca de 220 obras em diversas técnicas gráficas – off-set, silk-screen, litografia, impressão digital –, além da série original e inédita de desenhos e colagens “Day by Day”, seu diário durante a estadia em São Paulo, durante a 13ª Bienal.