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novembro 18, 2011
Polêmica na mesa de jantar por Nina Gazire, Revista Select
Polêmica na mesa de jantar
Matéria de Nina Gazire originalmente publicada na revista Select em 11 de novembro de 2011.
Em carta enviada ao Los Angeles MoCA, coreógrafa critica trabalho de Marina Abramovic
Yvonne Rainer chama performance planejada por Marina Abramovic de espetáculo grotesco
Inúmeros numerólogos nos advertiram durante a semana sobre a possibilidade de acontecimentos inusitados na data do dia 11/11/11. Superstição ou sintonia cósmica, o mundo da arte hoje acordou com uma notícia um tanto inesperada e que está causando repercussão nos meios especializados. Yvonne Rainer, uma das mais importantes coreógrafas da atualidade, enviou uma carta ao LA MoCA (Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles), que também foi publicada na íntegra no site Artinfo, questionando a instituição por apoiar a exploração de jovens artistas por outra colega mais gabaritada, sendo esta ninguém menos do que Marina Abramovic.
A convite da diretoria, Abramovic prepara uma performance a ser apresentada durante o tradicional baile de gala do museu, onde jovens artistas teriam se voluntariado para servirem, despidos de roupas, como suportes para as mesas do evento. Os voluntários receberão uma quantia de apenas 150 dólares para ficarem em pose de mobiliário durante os dois dias de festividades. Na carta enviada a Jeffrey Deitch, diretor do LA MoCA, Yvonne afirma que Marina Abramovic estaria descontextualizando o objetivo inicial de suas performances em nome da ganância, humilhando outros artistas para “entreter um bando de patrocinadores frívolos e ricos”. A coreógrafa ainda aponta que a grande adesão de voluntários ao “espetáculo grotesco” se deve a perversão do mundo arte, onde jovens artistas “compactuam com as ideias depravadas de uma celebridade para terem a chance de eles mesmos participarem do mundo das artes”. Yvonne chega a comparar o episódio com o filme Saló ou os 120 Dias de Gomorra, clássico do diretor italiano Pier Paolo Pasolini, em que um bando de jovens sofre abusos de políticos remanescentes do fascismo.
Tanto o LA MoCA quanto Abramovic ainda não se pronunciaram a respeito da crítica de Yvonne Rainer. De fato, Abramovic não tem realizado uma reflexão mais profunda em torno da função da performance nos dias de hoje. Ainda que seja uma das poucas artistas a continuarem praticando exclusivamente esse gênero, a performer tem se dedicado mais a rever outros trabalhos clássicos, como por exemplo a performance Action Pants: Gential Panic da austríaca VALLIE EXPORT ou permitir que outros artistas reencenem seus trabalhos mais antigos, como se deu no caso de sua retrospectiva no MoMA. Tais ações não deixam de ser em si uma espécie de atualização da arte da performance, porém, nem mesmo seu mais novo trabalho, The Artist Is Present, em que permaneceu sentada diante do público que se avolumava em filas quilométricas para terem um momento diante da artista, possibilitou perceber algo de inovador e inquietante. Nesse sentido a artista parece buscar mais uma zona de conforto legitimando a performance dentro dos ambientes institucionais do que estar propondo uma polêmica como a que Yvonne Rainer quer denunciar em sua carta-manifesto.