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novembro 18, 2011
Tatuagem vira símbolo de exploração em trabalhos por Silas Matí, Folha de S. Paulo
Tatuagem vira símbolo de exploração em trabalhos
Matéria de Silas Martí originalmente publicada no caderno Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 18 de novembro de 2011.
Obras polêmicas incluem desenhos na pele de prostitutas e de animais
Artista espanhol paga viciados para tatuar uma linha em suas costas e belga cria e vende porcos tatuados
Enquanto jovens artistas encontram agora na tatuagem um suporte vivo para obras de caráter mais lúdico e menos ácido, marcas sobre a pele já causaram muita polêmica no meio artístico.
No fim dos anos 90, o espanhol Santiago Sierra fez uma série de performances em que pagou desempregados e prostitutas US$ 30, ou o equivalente ao valor de uma dose de heroína, para que deixassem tatuar nas costas uma linha preta contínua.
Em vez de um desenho, Sierra gravou na pele de voluntários remunerados a marca de uma violação, denunciando a condição de explorados pelo sistema da arte.
Na mesma pegada, o artista carioca Ducha pagou os R$ 1.500 que recebeu do programa Rumos, seleção de jovens artistas do Itaú Cultural, a um caseiro para que raspasse a cabeça e tatuasse atrás dela a logomarca do banco.
"Decidi fazer com alguém a mesma coisa que o Itaú fazia comigo", conta Ducha. "Queria que essa exploração fosse vivenciada e que eu fosse o agente da exploração."
Wim Delvoye também pensou na ideia de marca como símbolo de valor e exploração quando decidiu tatuar porcos vivos com o brasão da grife de luxo Louis Vuitton.
Depois de criar desenhos sobre couro de porco, o artista belga passou a usar os bichos ainda vivos e teve a obra declarada ilegal na Bélgica por maus tratos aos animais. Ele então se mudou para a China onde tem uma fazenda para continuar o trabalho.
Suas composições sobre pele vêm acompanhadas de sua assinatura, como se fossem produtos em série que valorizariam na medida em que os porcos engordassem.
"Faço uma arte invendável, que cresce e chama a atenção de uma forma irônica", resumiu Delvoye em entrevista a uma revista canadense. "É o mesmo princípio do mercado de capitais, que também opera com juros e suas margens de lucro."