|
novembro 17, 2011
Pinturas cegas e outros lirismos por Aline Moura, O Povo Online
Pinturas cegas e outros lirismos
Matéria de Aline Moura orignalmente publicada no caderno Vida & Arte do jornal O Povo Online em 17 de novembro de 2011.
Prestes a completar 98 anos, "a grande dama da arte brasileira", Tomie Ohtake, apresenta peças raras do seu trabalho, além de 12 gravuras da mais recente produção, a partir de hoje, na Galeria Multiarte
Pinturas feitas com olhos vendados. Esculturas pintadas pela luz. Sombras que completam a arte. Gravuras viscerais. Às vesperas de completar 98 anos, no próximo dia 21, a artista plástica nipo-brasileira Tomie Ohtake reúne os elementos-base do seu trabalho na exposição Tomie Ohtake (1913), em cartaz a partir de hoje, às 20 horas, na Galeria Multiarte. Composta por oito pinturas, 12 gravuras e cinco esculturas, a mostra traz o melhor da produção da artista , segundo o curador Max Perlingeiro.
Considerada a “grande dama da arte brasileira”, suas principais obras viajam entre três tipos de expressões artísticas, pintura, gravura e escultura, atingindo o chamado abstracionismo lírico. Dentre as pinturas que compõem a coleção que será apresentada na exposição, destaca-se uma das 30 obras da série Pinturas Cegas. Segundo Max Perlingeiro, a série foi um experimento no qual Tomie pintava com olhos vendados. “Esse trabalho é completamente diferente de todos os outros. E quando eu preparei a seleção das obras, fiz questão que tivesse uma dessa série”. De acordo com ele, foi o crítico Mário Pedrosa quem sugeriu que Tomie fizesse esse experimento.
Quem for à exposição também poderá conferir instalações feitas com tubos de aço carbono que saem das paredes e do teto. Ali, a incidência de luz cria novas expressões. “A luz é quem pinta a escultura. A sombra é o complemento. Sem ela, a obra fica incompleta”, explica Perlingeiro. Além disso, a coleção é composta por gravuras de metal. De acordo com o curador, as peças foram feitas a partir de diversas camadas de tinta, tendo a cor vermelha como elemento constante. “Tomie tem uma gravura sofisticada. Uma coisa quase visceral”, explica.
A abertura da exposição conta com a presença de Ricardo Ohtake, filho de Tomie e diretor do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo. De acordo com Ohtake, a exposição contém peças raras que abrangem diferentes épocas do trabalho de sua mãe. Ele explica que as 12 gravuras expostas foram as últimas feitas por Tomie.
A exposição demorou três anos para ser concebida porque, segundo Max Perlingeiro, Tomie fez questão de criar uma especialmente para o Ceará. “Tomie é daqueles artistas extremamente comprometidos”, afirma Perlingeiro. O curador diz que em encontro recente com a artista plástica, ele a questionou sobre o segredo de sua vitalidade e para sua surpresa a resposta foi: “Eu fui ao show do Paul Mccartney. Você foi?”.