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novembro 17, 2011
Arte da delicadeza, Diário do Nordeste
Arte da delicadeza
Matéria originalmente publicada no Caderno 3 do Diário do Nordeste em 16 de novembro de 2011.
A artista Tomie Ohtake ganha exposição individual em Fortaleza. A mostra abre, amanhã, na galeria Multiarte, reunindo pinturas, gravuras e esculturas da artista visual nipo-brasileira
Tomie Ohtake nasceu em Kyoto, no Japão, em 21 de novembro de 1913. Às vésperas de seus 98 anos, ela é uma espécie de lenda viva das artes no Brasil. É conhecida por sua obra, de um aparente minimalismo que se desfaz à segunda vista, revelando-se, a um só tempo complexa e delicada; e pelo Instituto que leva seu nome, que funciona em São Paulo e segue como um centro de referência de boas exposições da arte moderna e contemporânea. E, se a alcunha de lenda não cabe a Tomie, isso se deve ao fato de a artista ter se negado a ser convertida em monumento. Afinal, sua produção criativa segue em frente, na contramão do tempo.
A obra dessa artista singular pode ser vista, a partir de amanhã, na galeria Multiarte. Às 20 horas, será aberta a exposição "Tomie Ohtake - Pinturas | Esculturas | Gravuras", com curadoria de Max Perlingeiro. De sexta-feira em diante, o conjunto de obras fica aberto à visitação gratuita. A última mostra individual da obra da artista, em Fortaleza, aconteceu há cerca de 20 anos, dedicada à sua produção de gravurista.
Parceria
A exposição é composta por 26 peças, divididas entre pinturas, gravuras e esculturas. "A ideia desta exposição existe desde 2007. Ela foi sendo pensada durante esse tempo, com o apoio do Instituto Tomie Ohtake. Ela mesma queria uma exposição especial para Fortaleza, queria que viesse algo inédito para cá. Tomie é mulher de 97 anos, que segue produzindo sem interrupções. Se ela preferia esperar pelo momento certo, não seria eu a apressá-la", conta Perlingeiro.
O curador não poupa elogios ao Instituto, parceiro da exposição que ficará em cartaz em Fortaleza. Deixaram-no livre para que escolhesse as obras que comporiam a mostra, ajudaram a encontrar as imagens que ilustram o belo catálogo e ofereceram suporte técnico para a delicada montagem das obras. "Há uma série de esculturas que precisavam ficar suspensas na parede. Na primeira vez que olhei, fique me perguntando com faríamos a montagem. Só que ela veio com um manual claríssimo à moda japonesa, com buchas especialmente projetadas para este fim. Acredite: a montagem de cada peça foi feita em cinco minutos", descreve.
"O melhor"
Max Perlingeiro não titubeia quando questionado a respeito do recorte da exposição de Tomie Ohtake na galeria Multiarte: queria trazer "o melhor" dela. "Contudo, pensar o melhor dela é algo muito difícil. Eu tinha diante de mim, à minha escolha, obras delicadíssimas, limpíssimas e sofisticadas, algumas grandes, outras pequenas", relembra.
A ideia era montar uma exposição que, de alguma forma, reproduzisse o espaço de criação da artista - um ateliê, na melhor tradição japonesa, marcado pela limpeza e pela organização, de obras e materiais. "Minha preocupação não era trazer uma obra monumental, mas fazer uma exposição como aquele ateliê, em que ´less is more´ (menos é mais)", elucida.
Empolgado com seu novo projeto, Max Perlingeiro demonstra um fascínio permanente com a obra de Tomie Ohtake. Não esconde certa preferência por um tríptico de 1987, que acabou escolhendo para ilustrar as peças de divulgação da mostra; o assombro diante das esculturas em metal carbono, obras que só se completam com a interação entre a peça e sua própria sombra; e as gravuras que mais parecem pinturas, tão perfeito que é o uso das cores e suas gradações no suporte.
Mais informações
Abertura da exposição Tomie Ohtake - Pinturas | Esculturas | Gravuras. Amanhã, às 20 horas, na galeria Multiarte (Rua Barbosa de Freitas, 1727 - Aldeota). A mostra fica em cartaz de 18 de novembro a 17 de dezembro, de segunda a sexta-feira, das 10 horas às 18 horas; e aos sábados, das 14 horas às 20 horas.