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outubro 19, 2011
Museu de Arte Contemporânea exibe 150 obras sobre o modernismo por Ana Rita Martins, O Estado de S. Paulo
Museu de Arte Contemporânea exibe 150 obras sobre o modernismo
Matéria de Ana Rita Martins originalmente publicada na Ilustrada do jornal O Estado de S. Paulo em 18 de outubro de 2011.
Mostra levanta discussão sobre mitos e estereótipos do movimento
Segundo o discurso ensinado na escola, o modernismo brasileiro foi um movimento marcado pela Semana de Arte Moderna, que ocorreu em São Paulo, em 1922. Propunha a abolição da tradição e a criação de uma arte original, visceralmente brasileira. Fazia parte dessa filosofia voltar às origens, valorizando o indígena e a linguagem falada pelo povo. Os artistas ditos modernos chamavam para si a responsabilidade de construir uma identidade nacional.
Não se pode dizer que a definição esteja errada, mas o fato é que ela mais estereotipa do que representa todas as riquezas e contradições inerentes ao modernismo brasileiro. Para apresentar facetas pouco exploradas do movimento e questionar mitos a respeito dele, o Museu de Arte Contemporânea apresenta a mostra Modernismos no Brasil. São 150 obras do acervo que propõem um olhar mais amplo e integral. Há contraponto também com obras internacionais de nomes como Pablo Picasso (1881-1973) e Paul Klee (1879-1940), mostrando influências e paralelos formais com os quais o modernismo flertou.
Em primeiro lugar, não se pode restringir o movimento a São Paulo, como prega a visão tradicional do livro De Anita ao Museu (1974), de Paulo Mendes de Almeida, que ainda é referência no assunto. Na exposição, há obras de Vicente do Rego Monteiro (1899 - 1970), artista recifense ligado a temas da religiosidade, e de Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), carioca, que retratou paisagens e festividades brasileiras. Ambos, vale frisar, participaram e semearam, em suas terras, as concepções e a filosofia do modernismo.
Filosofia, aliás, que nem sempre foi radical na prática. "O modernismo se propunha a romper fronteiras, mas o fato é que 99% dos artistas ainda se atinham aos suportes tradicionais como a pintura, o desenho e a escultura", diz Tadeu Chiarelli, curador da mostra. O que Chiarelli quer dizer é que os padrões das belas-artes, com poucas exceções, foram respeitados. Inclusive, pode-se ver nas produções modernistas as tradicionais alegorias, retratos, paisagens e naturezas-mortas.
Traços surrealistas. Outra questão levantada é a diversidade das obras. A série de nove desenhos Minha Mãe Morrendo (1947), de Flávio de Carvalho (1899-1973), por exemplo, exibe um caráter performático ao escancarar o processo do ato de desenhar. É uma proposição diametralmente oposta à arte de Tarsila do Amaral, que tanto em A Negra (1923) como em outras obras, apresenta a criação, sem vislumbres do processo de produção. Apesar de serem suportes diferentes, o que teoricamente tornaria complicada uma comparação, o fato é que os dois artistas põem em jogo questões diversas, independentemente de participarem do mesmo movimento.
Da mesma forma, a exposição mostra a diversidade do trabalho de Di Cavalcanti (1897 - 1976), exibindo desenhos que passam longe do estereótipo de pintor de trabalhadores e minorias. Traços eróticos e surrealistas, movidos a impulsos motores, trazem uma perspectiva mais livre e experimental de seus desenhos. Essa liberdade formal também pode ser vista nas obras de Geraldo de Barros (1923 - 1998). Ao lado delas, na mostra, estão os trabalhos de Paul Klee, de quem Barros buscou referências de desenho infantil.
Apesar de se concentrar na questão da diversidade e dos mitos do movimento, Modernismos no Brasil traz um pouco da produção que, de fato, rompeu as fronteiras na arte. A obra Plano em Superfícies Moduladas nº 2 (1956), de Lygia Clark, por exemplo, questiona os limites da tela ao extrapolar a própria moldura. É, aliás, uma das primeiras obras com a qual o visitante se depara ao entrar na exposição. O rompimento está ali. No resto da mostra, no entanto, ela vai ceder espaço para propostas muito mais conservadoras.
'Modernismos no Brasil'. Até 29/01. Museu de Arte Contemporânea. Parque do Ibirapuera. Pavilhão Ciccillo Matarazzo, 3º piso. De terça a domingo, das 10h às 18h.
Grátis. Classificação livre.