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outubro 14, 2011
Irã de cabeça para baixo por Paula Alzugaray, Istoé
Irã de cabeça para baixo
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 7 de outubro de 2011.
Pulso iraniano/ oi Futuro, RJ/ até 30/10
Peyman Hooshmandzadeh vive em Teerã, capital do Irã, onde trabalha como fotojornalista para vários jornais locais. Além da atividade como fotógrafo e editor de imagem, Hooshmandzadeh desenvolve um trabalho pessoal de fotoperformance em que se autorretrata em posição invertida em diversas situações: dentro do metrô ou diante de cartões-postais de Teerã (como a parede grafitada, na foto abaixo). Ao lado de outros 22 artistas, ele integra a mostra “Pulso Iraniano”, no Oi Futuro, no Rio de Janeiro, e com sua atitude expressa bem a intenção do curador Marc Pottier. “A arte do Irã não tem só a política e o exílio como temas. Quero focar o pulso, o dinamismo, a criatividade”, diz o curador francês, que, desde Paris, observa como os artistas iranianos têm ocupado cada vez mais o mercado de arte internacional.
Além de exibir um panorama bastante completo da arte iraniana hoje, realizada em fotografia, vídeo e cinema, a mostra ainda revela a produção resultante de um circuito de exibição independente, crucial em um país controlado por uma ditadura militar que não apoia as artes. “Nós não queremos apoio do governo. Não queremos a responsabilidade de ter que corresponder a esse apoio”, diz o artista Amirali Ghasemi, que, além de mostrar seu trabalho em “Pulso Iraniano”, é o curador de uma mostra de obras de 26 videoartistas. Em Teerã, Ghasemi coordena um espaço de arte na garagem de sua casa, a Parking Gallery (www.parkingallery.com).
Embora a pauta não seja a política, ela está presente na maior parte dos trabalhos em exposição no Oi Futuro. Até mesmo no segmento dedicado à poesia, já que a escritura no Irã é uma forma de resistência. No módulo centrado na mulher, o tema é ainda mais premente. A obra da cineasta Shirin Neshat aborda as barreiras culturais e religiosas erguidas entre homens e mulheres em sociedades islâmicas contemporâneas, e o faz não de forma a vitimizar a mulher oriental, mas sim para salientar sua coragem e audácia. O mesmo efeito têm as videoperformances da artista Ghazel, quando representam a mulher – e seu inseparável chador, a vestimenta negra islâmica – em situações tão banais quanto ousadas: no supermercado, na guerra, na montanha de ski.