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outubro 10, 2011
Neoconcretos na vitrine por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Neoconcretos na vitrine
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 10 de outubro de 2011.
Interesse da maior galeria do mundo e exposição em Paris ampliam assédio de estrangeiros por ícones da arte brasileira como Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape
A filial parisiense da maior galeria de arte do mundo, a Gagosian, abriu uma exposição dedicada a artistas neoconcretos brasileiros.
Não é um "território cru". Serena Cattaneo Adorno, diretora da Gagosian francesa, diz saber onde está pisando ao falar de Lygia Clark, Hélio Oiticica, Mira Schendel, Lygia Pape e Sergio Camargo.
"Eles viam a arte como organismos vivos e queriam um contato direto com os espectadores", diz Cattaneo Adorno. "Aí está a natureza radical do neoconcretismo."
Tão radical que museus como MoMA, em Nova York, Tate Modern, em Londres, e Reina Sofía, em Madri, dedicaram mostras a Schendel, Oiticica e Pape.
Hoje, o mercado de arte se volta a eles como nunca.
Sinal disso foi a venda em junho deste ano de uma obra de Lygia Clark por cerca de R$ 4,1 milhões, recorde histórico para um brasileiro, na última edição da Art Basel, a feira de arte suíça que é prioridade máxima na agenda dos colecionadores.
No mês passado, representantes das maiores galerias do mundo circularam pelo país. Uma sócia da galeria britânica White Cube foi vista nos vernissages mais importantes da temporada, enquanto a Gagosian mantém um olheiro no Rio, que monitora o mercado para a matriz em Nova York.
"Tenho interesse crescente pelo Brasil e sua cena artística", afirmou Larry Gagosian, dono da galeria, à Folha. "Espero que essa exposição em Paris seja a base para maior associação da galeria com essa cultura."
Não são de hoje, aliás, os boatos de que a Gagosian tenta abrir filial no Brasil, e essa exposição seria um passo adiante no flerte.
Os impostos sobre obras de arte praticados no país -até 42% do valor da obra-, no entanto, azedam a relação.
"Essas regras de importação deixaram o mercado interno extremamente forte, elevando os preços do país ao patamar da Europa e dos EUA", diz Cattaneo Adorno. "Mas há também uma grande perda para o mercado internacional, que está menos presente no Brasil por causa dessas restrições."
Por ora, galerias como White Cube e Gagosian ficam com as feiras no país, como a SP-Arte e a ArtRio. Ao negociar isenção temporária de impostos, a feira carioca anunciou ter vendido R$ 120 milhões em obras em sua estreia, no mês passado.
Enquanto isenções como essa e mudanças nas regras de importação de obras de arte não acontecem, casas estrangeiras vão fazer o que a Gagosian faz agora em Paris: vender brasileiros a europeus com preços da Europa.