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outubro 5, 2011
Viagem à terra do Marlboro por Paula Alzugaray, Istoé
Viagem à terra do Marlboro
Matéria de Paula Alzugaray originalmente publicada na seção de artes visuais da Istoé em 30 de setembro de 2011.
Fundação Bienal traz importante coleção de museu de Oslo e promove viagem não linear à arte norte-americana dos últimos 30 anos
Em nome dos artistas – Arte contemporânea norte-americana na Coleção Astrup Fearnley/ Fundação Bienal de São Paulo, SP/ até 4/12
Habituados que estamos às irregularidades e aos sobressaltos entre as obras das bienais de São Paulo, torna-se surpreendentemente tranquilo caminhar pelas arejadas salas dedicadas a Matthew Barney, Jeff Koons, Cindy Sherman, Doug Aitken, Felix Gonzalez-Torres, Nan Goldin, Richard Prince – entre outros artistas icônicos norte-americanos dos anos 80 e 90 – no terceiro andar da exposição “Em Nome dos Artistas – Arte Contemporânea Norte-Americana na Coleção Astrup Fearnley”. Programada em comemoração aos 60 anos da Bienal de São Paulo, a mostra expõe um recorte de 219 obras do acervo do museu norueguês. A escolha do curador Gunnar Kvaran, diretor da instituição, se deu sobre 50 artistas norte-americanos ativos entre 1980 e 2010 e mais uma “concessão poética”: uma coleção de obras do artista britânico Damien Hirst de tirar o fôlego.
A exposição está dividida em três “capítulos”. A introdução – triunfal – fica por conta do britânico Hirst, que foi tachado de sensacionalista depois de incendiar a arte e a opinião pública nos anos 90 com seus animais dissecados e conservados em tanques de formol. “Decidimos trazer Hirst porque ele tem uma posição especial na coleção”, afirma o curador Kvaran. “Em 1993, quando ele surgiu, fomos provavelmente a primeira instituição europeia a adquirir suas obras.” Por esse motivo, a coleção Astrup Fearnley tem uma boa representatividade de seu trabalho e, assim, torna-se possível ao público compreender a trajetória e as motivações escatológicas desse artista controvertido. “Além do mais, há um link entre Hirst e a nova geração norte-americana”, sugere Kvaran.
O link fica evidente no terceiro andar do Pavilhão da Bienal, onde o curador instalou o capítulo dos grandes nomes dos últimos 30 anos. Se Hirst colocou animais em aquários nos anos 1990, o norte-americano Jeff Koons começou a instalar ícones da vida americana dentro de vitrines já no início dos anos 1980. Em “Three Ball Total Equilibrium Tank” (1985), ele coloca três bolas de basquete em um aquário e antes disso, em 1981, criou um tanque de luz fluorescente para os aspiradores Hoover e as enceradeiras Shelton. Com clara influência das sopas Campbell’s de Andy Warhol, os altares domésticos de Koons são bem anteriores à série que fez dele o grande artista pop depois de Warhol e antes de Hirst: “Made in Heaven” (1991), em que se autorretrata em cenas de sexo tórrido com a atriz pornô italiana Cicciolina, com quem foi casado entre 1991 e 1992. Em uma sala proibida para menores, há duas fotografias do love de Koons com Cicciolina.
O roteiro da arte produzida na terra do Marlboro continua no segundo andar, onde Kvaran optou por instalar a nova geração, ainda não consolidada – embora o suficiente para ser introduzida em grandes coleções, como a do colecionador Hans Rasmus Astrup, que está entre os 200 maiores do mundo. No segmento “young americans” há muito mais experimentalismo – o que faz desse andar um espaço mais parecido ao das bienais – e gratas revelações, como Paul Chan, com sua magnífica instalação luminosa “The Seven Lights”, dividida em sete salas.