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outubro 3, 2011
Artista faz árvore de bronze em Inhotim por Silas Martí, Folha de S. Paulo
Artista faz árvore de bronze em Inhotim
Matéria de Silas Martí originalmente publicada na Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo em 2 de outubro de 2011.
Giuseppe Penone rodeou escultura com plantas reais que vão incorporar obra à paisagem real de Minas Gerais
Italiano integrou a 'arte povera', movimento italiano dos anos 70 conhecido pelo uso de materiais precários
Debaixo de uma tenda, Giuseppe Penone foge do sol e olha para sua árvore de bronze. Ela está suspensa por hastes metálicas entre cinco plantas de verdade num descampado de terra vermelha.
Sua ideia é que as copas das árvores reais em torno da sua artificial acabem engolindo a escultura e fundindo as formas naturais às pensadas pelo homem, numa espécie de arquitetura ao contrário.
"Usei a árvore como matéria que se plasma no tempo", diz o artista italiano, que acaba de construir o trabalho no Instituto Inhotim, em Brumadinho, no interior mineiro. "É um material fluido."
Não é a primeira vez que ele usa árvores em seus trabalhos, mas, no caso do Inhotim,paraíso do magnata Bernardo Paz que mistura selva e arte contemporânea, a obra do artista se transforma.
Penone integrou a escola estética da "arte povera" (arte pobre) surgida na Itália nos anos 70. Pertenceu à geração de artistas que via na natureza ou em descartes do cotidiano as formas quase prontas de seus trabalhos. Uma ideia de que arte se constrói com nada ou quase nada.
Os conceitos do movimento ganham outras dimensões ao entrar em contato com a paisagem local, que vai dos descampados ainda não ocupados por obras aos jardins transformados por artistas como Doug Aitken, Cildo Meireles e Adriana Varejão.
IMAGENS AUTOMÁTICAS
"São imagens automáticas da nossa existência, toda obra parte da ideia de que ela é já existente", diz Penone. "Quando faço uma escultura, estou mostrando seu processo de fatura, é esse processo que se torna o conteúdo."
Em seus primeiros trabalhos, por exemplo, o artista interferia no crescimento das árvores, pregando objetos aos troncos para que fossem engolidos no desenvolvimento da planta.
Também embaralhou as raízes de três árvores, para que crescessem juntas.
Penone começa sem saber o resultado final, pensando a escultura como ato em transformação ao longo dos anos, da mesma forma que o corpo humano cresce e definha.
Seu próprio corpo está em muitos trabalhos. Ele chegou a replicar as formas das mãos e dos pés em argila e a estampar em chapas de vidro toda a extensão da própria pele num trabalho dos anos 70.
Duas décadas depois, reproduziu a textura da casca de árvores em pedaços de couro, na tentativa de mesclar peles vegetal e animal.
"São todas motivações ligadas à ideia de escultura, formas que ocupam um espaço", diz Penone. "Até a respiração produz formas diretas."
Essa ideia ele explorou em outra série, feita de vasos de argila com o mesmo volume de ar que ele calculou caber em sua boca. Agora, espera ver surgir, nas copas de suas árvores, uma espécie de catedral de folhas.
Centro mineiro inaugura série de obras na quinta
Muito perto da árvore de bronze de Giuseppe Penone, será inaugurada também nesta quinta uma espécie de colmeia feita de sacos de cimento pelo artista norteamericano Chris Burden.
Na mesma pegada natural, a brasileira Marilá Dardot criou vasos de flores no formato de letras do alfabeto, que visitantes poderão mover para compor frases e palavras num dos amplos gramados de Inhotim.
Penone, Burden e Dardot engrossam a lista de novas aquisições, que conta ainda com o brasileiro Marepe, que construiu uma espécie de calha d'água tortuosa, e o suíço Thomas Hirschhorn.
No caso de Hirschhorn, a obra que ele apresentou na Bienal de São Paulo em 2006 ganha nova versão no Instituto Inhotim: uma espécie de labirinto que mistura referências filosóficas e atrocidades de guerras recentes, como imagens de corpos destroçados.
Na mesma galeria, um vídeo de Cinthia Marcelle retrata um grupo de malabaristas que bloqueiam um cruzamento no trânsito, enlouquecendo motoristas.
Noutro espaço, estão obras dos alemães Lothar Baumgarten e Isa Genzken. Enquanto ele reinterpreta e classifica paisagens da Amazônia nas telas do holandês Albert Eckhout, ela reapresenta sua obra da última Bienal de São Paulo.
Também entra para o acervo uma série das famosas pinturas enviadas por correio do artista chileno Eugenio Dittborn, homenageado com uma retrospectiva na Bienal do Mercosul agora em Porto Alegre.